No Japão, vale o que está no fax. Não adianta mandar nem e-mail…

Pode esquecer o smartphone ou o tablet: praticamente 100% das empresas japonesas só fecham negócio por fax. Ele mesmo, o velho fax, máquina aposentada no mundo todo, sobrevive em um dos países mais hi-tech do planeta. Por quê? Não erra quem falar em motivos culturais. Mas, a demografia também não pode ser esquecida na hora de explicar as razões da devoção nacional a um equipamento pré e-mail.

Estudo do governo japonês, divulgado em julho, revelou que 98% dos escritórios e 45% das residências possuem fax. Como mostrou matéria do Globo, de 1/09, pg 34, em 2012, foram vendidos no Japão 1,7 milhão de aparelhos de fax. As importações do aparelho subiram 6% no ano passado em relação a 2011. Pesquisa de consultoria especializada mostrou que 87% dos empresários e executivos japoneses consideram o equipamento “essencial”.

Os hábitos dos clientes explicam porque os negócios são fechados em fax. Os japoneses são muito formais, principalmente os mais velhos. E todos dão muita importância à caligrafia. Sem esquecer que enviar um documento escrito a mão é demonstração de respeito. A maioria dos clientes, especialmente nos negócios entre empresas, se sente mais segura trocando informações documentadas em papel e não na internet.
É fato que até razões linguísticas interferem. A língua japonesa usa três alfabetos diferentes, o que torna o teclado um instrumento complicado para gerações educadas em termos analógicos. Em uma nação marcada pelo envelhecimento acelerado, 24% da população têm mais de 65 anos, muitos continuam preferindo escrever a mão. Além disso, o país exige carimbos (o chamado hanko) em todos os documentos oficiais. E a burocracia pede sempre uma cópia em fax.

Os costumes sociais também exigem o fax. Convidar alguém para uma festa ou cerimônia pela web seria uma descortesia. E, tudo que envolve número é quase sempre enviado via fax, inclusive dados bancários.

O avançado Japão recebeu o curioso apelido Ilhas Galápagos, palco de fascinantes evoluções tecnológicas, mas que mantém características únicas. O jornalista Akky Akimoto, que assina uma coluna sobre tecnologia no jornal Japan Times, não tem fax , nem telefone fixo. Mas ele admite que entregar cartão de visita (uma mania nacional) sem número de fax tira credibilidade. Seja de quem for… inclusive, de jornalista de tecnologia.

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