No G-7, Biden pede apoio de aliados contra “autocratas”

O presidente dos EUA, Joe Biden, disse ontem que democracias do Ocidente “estão em disputa com autocratas”, e desafiou líderes dos países do G-7 a usarem seu poder financeiro para fazer frente à crescente influência da China. 

Biden disse estar “satisfeito” com o resultado da cúpula do G-7 na Cornualha ontem, mas pressionou dirigentes europeus a apoiarem alternativa à Iniciativa do Cinturão e da Rota, da China, por meio de amplo pacote de financiamento à infraestrutura a países pobres. 

Os líderes europeus que participaram da reunião de cúpula entre os países mais ricos do mundo se mostraram mais cautelosos quanto a se indispor com Pequim. O premiê do Reino Unido, Boris Johnson, anfitrião da reunião, preferiu não mencionar a China especificamente em sua entrevista coletiva de encerramento. 

O premiê da Itália, Mario Draghi, disse que o Ocidente tem de trabalhar com a China em áreas como mudança climática. O presidente da França, Emmanuel Macron, disse que o G-7 não “é hostil à China”, e uma autoridade britânica declarou: “O propósito da cúpula é mostrar o que defendemos e não contra quem somos”. 

A premiê da Alemanha, Angela Merkel, apoiou a criação de uma força-tarefa para estudar as maneiras de os governos do G-7 trabalharem com o setor privado em projetos de infraestrutura no mundo em desenvolvimento. 

Falando após a reunião, realizada em Carbis Bay, na costa inglesa da Cornualha, Biden elogiou o comunicado final por suas referências à China, disse estar “satisfeito” com o conteúdo e que havia “muita ação” em torno das medidas destinadas a fazer frente a Pequim. 

O presidente dos EUA observou que da última vez em que o G-7 se reuniu não houve referência à China. “O G-7 concordou explicitamente em denunciar os abusos de direitos humanos em Xinjiang e Hong Kong”, disse ele, acrescentando que também houve a estratégia de pressionar a China devido ao seu uso de trabalho forçado. 

“Estamos em uma disputa, não com a China em si, mas com os autocratas e os governos autocratas do mundo inteiro para saber se as democracias podem competir com eles em um século 21 em mudança acelerada”, disse Biden. 

No último dos três dias de cúpula, os líderes dos países do G-7 lançaram a iniciativa chamada “Build Back Better for the World” (Reconstrução Melhor para o Mundo ou B3W), mas não aprovaram os detalhes de como será financiada ou quais serão suas implicações. 

Biden disse que uma comissão conceberá o plano, com foco em mudança climática, saúde, tecnologia digital e igualdade de gêneros, para se contrapor aos bilhões gastos pela China em infraestrutura nos países mais pobres. 

“A China tem a Iniciativa do Cinturão e da Rota, e consideramos que esta é uma maneira muito mais correta de atender às necessidades dos países em desenvolvimento no mundo inteiro”, disse. O novo fundo “representará os valores de nossas democracias, e não a autocrática falta de valores”. 

No entanto, especialistas em mudança climática disseram que o grupo não assumiu qualquer compromisso financeiro coletivo para ajudar países em desenvolvimento a reduzir emissões ou a administrar catástrofes climáticas. 

O evento, além disso, diluiu o compromisso assumido no mês passado pelos ministros do Meio Ambiente do G-7 sobre o prazo para a desativação das usinas a carvão. A meta de “um sistema energético esmagadoramente descarbonizado na década de 2030” foi suprimida no último comunicado. 

Os dirigentes do G-7 também foram criticados pelo plano pouco ambicioso de compartilhar vacinas anticovid com países mais pobres. O comunicado disse que o grupo compartilharia “ao menos 870 milhões de doses” em 2022. 

De acordo com a ONG Oxfam, 1 bilhão de doses seria uma gota no oceano. O comunicado afirma que o pG-7 havia proporcionado mais de 2 bilhões de doses de vacina ao mundo em desenvolvimento desde o início da pandemia. 

Biden descreveu a reunião como uma ruptura com a era Trump, ao dizer “os EUA voltaram à mesa [de negociação]. Os EUA voltaram a liderar o mundo.” 

“Todo mundo está encantado com a volta dos EUA, mas a liderança americana significa que eles vão querer alguma coisa de nós”, afirmou um diplomata europeu. 

Johnson disse que a cúpula foi marcada por “harmonia fantástica”, embora a questão do Brexit e de novas regras de comércio para a Irlanda do Norte tenham azedado as negociações. Johnson disse que “fará o que for preciso” para que não haja ônus ao comércio entre Reino Unido e Irlanda do Norte. 

A China criticou o G-7, dizendo que “o autêntico multilateralismo” tem como sede a ONU. “Os tempos em que as decisões mundiais eram ditadas por um grupo pequeno de países passaram há muito”, disse porta-voz da embaixada da China em Londres. 

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