No Brasil, smartphone já supera computador no acesso à internet

O perfil típico do retrato da inclusão digital do país foi delineado pelo Suplemento de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2014. O levantamento mostrou, pela primeira vez desde 2005, ano de estreia da análise, que mais da metade da população brasileira já conta com acesso à internet.

De 2013 a 2014 o avanço no número de pessoas conectadas à rede se deu em todas as faixas etárias e de renda, mas principalmente entre os mais jovens e os trabalhadores domésticos, como mostrou material do Valor de 7/04, pg B10

A pesquisa apurou que o celular hoje está presente em todas as classes de renda e faixas etárias, tendo registrado forte expansão em todas elas. Além disso, o telefone móvel superou o computador como principal dispositivo de acesso à internet nas residências brasileiras. Para especialistas, nem mesmo o enfraquecimento da demanda no mercado interno, devido à crise econômica de 2015, poderá inibir a trajetória ascendente de inclusão digital observada em 2014. A tendência deve prosseguir nos próximos anos.

“Em tempos de crise as pessoas se adaptam. A gente sabe que o acesso à internet móvel vem se popularizado mais e mais, com as operadoras oferecendo planos cada vez mais baratos”, indicou Helena Oliveira Monteiro, técnica do IBGE responsável pela pesquisa. “Então, pode ser uma saída, uma possibilidade, de aumento desse acesso à internet.

O IBGE começou a apurar o uso de internet pela população em 2004. Naquele ano, o acesso à rede era feito principalmente por computadores e atingia em torno de 20% da população.

Com a redução nos preços dos smartphones entre 2013 e 2014, o número de internautas explodiu. Só nesse período houve aumento de 155,6% no número de pessoas que acessaram a internet por outros dispositivos eletrônicos que não o computador – acréscimo de 11,2 milhões de usuários.

Como observado na pesquisa anterior, o instituto constatou que a internet amplia está cada vez mais presente na vida dos jovens e o acesso a ela se mantém em trajetória ascendente. Embora todos os grupos de idade tenham apresentado aumento no uso da rede entre 2013 e 2014, a maior parcela de ganho, em 2014, foi registrada na população de 15 a 17 anos: 81,8%. Em 2013 a alta nessa faixa etária havia sido de 75,7%.

Com renda domiciliar acima de 20 salários mínimos, Brenda é uma desses jovens. Ela reconhece que o celular facilita muito sua vida, mas admite que, às vezes, gostaria de ser menos conectada. “Resolvo tudo pela internet do celular. Até para saber trajetos de rua via GPS”, comenta. Ela conta que todos os integrantes da família – pai, madrasta e três irmãos – possuem aparelhos móveis próprios. Isso inclui as irmãs mais novas, de 9 e 11 anos. “Hoje em dia é impossível ficar sem o celular e viver em sociedade”, comenta.

A gestora do Centro de Tecnologia e Sociedade da FGV Direito Rio, Marília Maciel, concorda. “Depois que a tecnologia entra na vida das pessoas é difícil elas se viverem sem”, destacou a pesquisadora. Além do preço, houve uma mudança no estilo de vida: “As pessoas gastam muito mais tempo se locomovendo”, disse.

O estilo de vida mais rápido no mundo moderno e a facilidade oferecida pelo acesso à internet não é um fenômeno que atinge apenas as classes mais elevadas. O IBGE notou aceleração no ritmo de acesso de internet e posse de celular também nas camadas de renda mais pobres.

Na faixa dos sem rendimento a um quarto de salário mínimo per capita, o percentual de pessoas que usaram internet subiu de 23,9% para 28,8% entre 2013 e 2014. Somada à faixa de renda de um quarto do mínimo a meio salário mínimo, o uso subiu de 33,8% para 40,3%. Já entre os que têm renda de mais de meio a um salário mínimo a utilização cresceu de 43% para 47,9%. Por fim, entre os que ganham mais de um até dois salários mínimos, a taxa passou de 55,6% para 59,5%.

A pesquisa mostra ainda que, no contingente das menores faixas de renda, o uso pessoal do celular também avançou mais depressa entre 2013 e 2014. Na faixa de sem rendimento aos que ganham um quarto de salário mínimo, o percentual subiu de 49,1% para 53% no período.

Foi a segunda taxa de expansão mais intensa entre as classes de renda pesquisadas pelo IBGE, perdendo apenas para a faixa de um quarto de salário mínimo a meio mínimo, cuja parcela aumentou de 62,8% para 67,4%. Ou seja: nas duas faixas mais baixas de rendimento investigadas pelo IBGE, pelo menos metade possuía aparelho celular, em 2014.

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