Nem Biden nem Trump empolgam os jovem

Os eleitores americanos mais jovens podem ser determinantes para a possibilidade de os EUA elegerem ou não seu presidente mais velho da história em novembro. Mas, no momento em que os democratas se reúnem on-line nesta semana, para uma convenção abatida pela pandemia, eles terão de encarar o fato de que a Geração Z (aqueles nascidos entre 1995 e 2010) – alguns dos quais estarão participando de sua primeira eleição presidencial – está longe de ficar empolgada com as opções eleitorais. Isso pode se traduzir em um menor número de jovens americanos se dando ao trabalho de comparecer às urnas. 

Recente pesquisa do Pew Research Center mostrou que, entre as pessoas de 18 a 29 anos, a empolgação com o candidato presidencial preferido é quase igual, seja ele o presidente republicano Donald Trump ou seu adversário democrata, Joe Biden – e ambos os percentuais são baixos, de 10% para Trump e de 11% para Biden. 

O demógrafo William Frey, da Brookings Institution, escreveu recentemente que mais de metade da população americana pertence atualmente ou à Geração Z ou à faixa etária dos millennials (nascidos entre 1980 e 1997) e é mais diversificada do ponto de vista racial do que as gerações mais velhas. Isso deve significar que eles tendem mais a votar nos democratas. 

E no levantamento da Pew, 67% das pessoas de 18 a 29 anos se auto definem como politicamente próximas a Biden ou “inclinadas em favor de Biden”. Mas uma parcela surpreendentemente alta, de 30%, disse que certamente ou possivelmente votará em Trump, desafiando a noção corrente de que os eleitores de Trump são mais velhos. Para piorar as coisas para os democratas, uma pesquisa da empresa de inteligência social Harris Poll feita dias antes da convenção, detectou que 59% das pessoas na faixa dos 18 aos 39 anos disseram que prefeririam viver em um país socialista do que em um país capitalista, o que representa um crescimento de 9% em relação ao ano passado. Isso pode se traduzir num apoio morno ao centrista Biden, que eliminou Bernie Sanders, o candidato preferido entre os jovens socialistas nas primárias. 

Conversando com membros da Geração Z de ambas as pontas do espectro político, para descobrir o grau de motivação que têm em votar, descobri que alguns apoiadores de Trump e da organização política Socialistas Democráticos da América (DSA, na sigla inglês) têm sérias dúvidas. 

Olivia Litzenberg, de 23 anos, membro da DAS de Milwaukee, em Wisconsin, onde a convenção democrata está sendo nominalmente realizada, disse que o suposto indicado “definitivamente vai desmotivar os eleitores jovens… Você não vai nos ver fazendo campanha por Biden”. E acrescentou: “Sou transgênero, e viver mais quatro anos sob um governo Trump prejudicará diretamente meu padrão de vida… Mas Biden é a alternativa de ‘volta ao normal’, e o normal mostrou que é uma porcaria”. 

A companheira de Litzenberg, Pamela Westphal, de 21 anos, diz que o fato de Sanders não ter se tornado o candidato democrata foi “um alerta” para muitos jovens, que sentiram que “o sistema nos deixa na mão”. Ela acha que o comparecimento democrata será reduzido. “Não tenho visto muitos jovens que estejam entusiasmados com Biden. Tenho visto jovens entusiasmados por Trump. Para falar a verdade, não ficarei chocada se Trump ganhar outra vez.” 

Ben Travis, nascido em Wisconsin, de 26 anos, votou em Trump em 2016, mas tem dúvidas se fará isso neste ano. “Minha inclinação fiscal é conservadora, mas a social é liberal”, diz ele – um perfil comum entre os apoiadores de Trump. Mas, após ter estudado saúde pública na universidade, ele é crítico quanto à resposta dada pelo presidente à pandemia e às manifestações antirracistas. 

“Eu realmente o apoiava”, diz ele. Mas, com tantos mortos na pandemia e com as manifestações que sacudiram os EUA, “o país realmente estava num momento em que precisava de um presidente, mas ele falhou nisso”. “Nesse momento eu comecei a me perguntar, será que posso apoiá-lo? E agora estou numa luta interna… Acho que vou votar nele, mas estou praticamente optando por não votar nele.” 

A Geração Z talvez represente apenas cerca de 10% dos eleitores habilitados a votar, mas esses 10% poderão fazer toda a diferença caso a eleição seja, como parece provável, mais apertada do que as atuais pesquisas sugerem. “Acho que haverá menor comparecimento dos jovens nesta eleição”, diz Westphal. “Os jovens sentem que os políticos não os ouvem.” 

Os que se sentem ignorados deveriam votar para mudar isso – mas, muitas vezes, não o fazem. Os eleitores mais jovens dos EUA poderiam determinar a correlação de forças nesta eleição, mas isso terá pouca importância se não optarem por exercer esse poder. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/08/19/nem-biden-nem-trump-empolgam-os-jovens-e-isso-pode-ajudar-o-presidente.ghtml

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