É uma escolha difícil entre duas realidades. Primeira, a Índia é uma país com forte expansão e ultrapassou o Japão como terceira economia do mundo, depois dos EUA e da China. Segunda realidade, a Índia é uma nação vasta, turbulenta, com muitas aspirações. Os pobres mudaram, adotaram atitudes e preocupações típicas da classe média. Os indianos migraram para as cidades.
No entanto, como mostrou matéria do The New York Times, assinada por Ellen Barry, traduzida pelo Estadão na edição de 18/05, pg A23, mesmo os indianos que permanecem nas aldeias, surfando na internet com smartphones baratos, estão mais próximos da maneira urbana de pensar. E, eles querem empregos.
Por exemplo, os camponeses do Estado de Andhra Pradesh que gastam todas as rupias que ganham ou se endividam para mandar os filhos para escolas particulares na esperança de que consigam emprego num escritório. Qualquer coisa, desde que não seja na agricultura. Antes, os jovens depositavam suas esperanças em cursos de software em escolas baratas, ansiando por coisa melhor do que trabalhar num call center. Todos pareciam decididos a dar um salto, mas não tinham ideia para onde.
Para muitos, as esperanças estavam em Narendra Modi, candidato do Partido Bharatiya Ja- nata (PBJ) ao cargo de premiê. Apesar de seu passado de líder nacionalista hindu, pouco atento às exigências dos muçulmanos, os eleitores lhe deram uma ampla vitória eleitoral.
A escolha de Modi é uma mudança radical. Ele iniciava seus comícios com palavras de carinho por seus seguidores, mas terminava com ataques furiosos contra o status quo. Essa não era a luta para a qual o Partido do Congresso estava preparado, depois de comandar mais de dez anos de crescimento de renda na Índia.
Em entrevista em seu bangalô colonial britânico, no fim do ano, Ajay Maken, um dos líderes do Partido do Congresso, parecia confiante na mensagem que levaria aos eleitores, coisas concretas que o governo já fez, segundo ele, “para os pobres mais pobres”. Por que isso não funcionou e o partido do Congresso perdeu a eleição? Uma razão é que os pobres da Índia não estão mais satisfeitos com as esmolas que recebem. “O Partido do Congresso lembra de nós durante as eleições e dá aos pobres uma pequena esmola”, disse um motorista de Varanasi. “Mas queremos ser autossuficientes.”
Há gerações os políticos do Partido do Congresso concentram-se mais no eleitorado rural. Erraram feio agora. A Índia mudou. Primeiro, na sociedade. E, agora, no governo.