Na Grécia, uma inédita “greve de notícias” apoiada pela população

Pouco antes da meia noite de anteontem todas as telas de televisão na Grécia escureceram. O óbvio questionamento daquele fato só foi menor do que a surpresa da população quanto aos motivos: o governo grego determinara, sem qualquer aviso, a interrupção de todas as transmissões audiovisuais públicas. Ou seja, rádios e TVs estatais, a empresa ERT, seriam desligadas. Sumariamente. O motivo da decisão era também bem simples: corte de gastos. Na dramática situação que vive o país, denúncias de mau uso dos recursos na ERT foram suficientes.
Na manhã de ontem milhares de gregos se reuniram diante do prédio da ERT, com os jornalistas demitidos. Horas depois, estava organizada uma greve geral de toda a mídia grega, movimento que atingiu tanto veículos privados como públicos, provocando um espetáculo inédito: um país sem nenhum meio audiovisual de comunicação. Os jornalistas gregos entraram em greve sem previsão de término, gerando um “apagão de notícias” em todos os canais de televisão e jornais privados.
O mais curioso, como mostrou a matéria de Gilles Lapouge no Estadão de 13 de junho, pg B11, foi a impressionante indignação da população com a decisão do poder. A resposta do governo para a surpreendente greve de notícias foi a típica emenda que fica pior que o soneto: não há motivo para tantas reclamações assegurou o porta-voz oficial, depois de dizer que o governo contrataria mil funcionários e reabriria a um custo menor uma nova Rádio e TV estatal , bem menos dispendiosa. De fato, a ERT tinha 2.858 funcionários e sucessivas denúncias de descontrole financeiro, até com servidores fantasmas.
A promessa de reabertura da TV estatal foi recebida com risos e muita desconfiança. Os gregos temem que a intenção das autoridades é criar um “modelo enxuto” de radio e TV absolutamente submisso às vontades do poder. Tudo indica que a reação popular será ainda maior depois da “proposta” das autoridades de Atenas.

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