A espera continua. O Federal Reserve (Fed, o banco central americano) manteve os juros de curto prazo depois de semanas de um debate interno que mexeu com o mercado, adiando a decisão histórica de pôr fim a uma era de juros baixíssimos em face das preocupações com a desaceleração do crescimento no resto do mundo.
Embora os dirigentes do banco central não acreditem que as recentes turbulências globais possam tirar a economia americana dos trilhos, eles querem ter certeza antes de elevar os juros, como mostrou matéria do The Wall Street Journal, assinada por Jon Hilsenrath, publicada no Valor de 19/09, pg A 16
“Em face dos eventos que vimos e do impacto nos mercados financeiros, queremos esperar um pouco mais de tempo para avaliar os prováveis efeitos nos Estados Unidos”, disse a presidente do Fed, Janet Yellen, durante a coletiva de imprensa realizada após a reunião de política monetária do Fed.
A maioria dos dirigentes do Fed ainda acredita que o BC elevará os juros antes do fim do ano, mas a instituição mostrou um pouco menos de convicção nesse ponto. O banco central ainda vai realizar mais duas reuniões neste ano, no fim de outubro e em meados de dezembro.
Os mercados americanos sofreram uma reviravolta com o anúncio do Fed. O índice Industrial Dow Jones fechou em queda de 0,39%, em 16.674,74 pontos. Ao mesmo tempo, o rendimento das notas de dois anos do Tesouro dos EUA registrou seu maior recuo diário desde o fim de dezembro de 2010. (O rendimento cai quando o preço dos papéis sobem).
A decisão de ontem de manter os juros, depois de meses de discussão sobre uma alta, reflete a natureza cautelosa de Yellen como pessoa e como líder.
“Pode-se argumentar por um aumento dos juros neste momento”, disse Yellen. Mas acrescentou que as autoridades decidiram recuar “diante do aumento das incertezas externas” e da expectativa de inflação baixa nos EUA por um período mais longo. O Fed quer “um pouco mais de tempo” para ter certeza que o cenário econômico americano não mudou fundamentalmente, disse ela.
Em dezembro de 2008, o Fed cortou sua taxa de referência – chamada taxa dos fundos federais – para próximo de zero em resposta à crise financeira global. O banco central manteve os juros nesse nível desde então, numa tentativa de estimular o crédito, os gastos e os investimentos e, assim, dar impulso ao crescimento.
Os dirigentes do Fed vêm sinalizando durante meses que planejam elevar os juros neste ano. Um fator central para o otimismo deles é a visão que o mercado de trabalho está melhorando rapidamente e reduzindo a capacidade ociosa na economia, um precursor de alta na inflação. O desemprego nos EUA foi de 5,1% em agosto, o nível que o Fed espera ver no longo prazo. A inflação anual, porém, está há mais de três anos abaixo de 2%, a meta do banco central.
“No geral, os indicadores do mercado de trabalho mostram que a subutilização dos recursos de mão de obra diminuiu desde o início deste ano”, disse o Fed.
Em julho, as autoridades pareciam estar decididas a elevar os juros na reunião desta semana, mas uma série de fatores provocou uma pausa no processo, como a valorização do dólar, a volatilidade nos mercados de ações e títulos e sinais de desaceleração na China, a segunda maior economia do mundo.
O Fed afirmou, como havia feito antes, que vai aumentar os juros quando vir “uma melhora maior” no mercado de trabalho e quando os dirigentes se tornarem “mais confiantes” de que a inflação vai subir em direção à meta de 2% no médio prazo.