Morte do embaixador dos EUA abre debate sobre ética na política e na arte.

O assassinato do embaixador americano, J. Christopher Stevens, no consulado de Bengazi na Líbia, desencadeou uma série de reações. A primeira delas eminentemente política, diz respeito à eleição presidencial norteamericana de novembro. O presidente Barack Obama foi muito rápido e em tom grave assegurou: “não se enganem a Justiça será feita”. O candidato republicano, Mitt Romney tomou caminho bem diferente entrevendo a oportunidade de fazer um contraste entre a sua visão de política externa e a do presidente democrata.
Sem conhecer exatamente a sequência dos fatos, Romney atacou dizendo que o governo Obama “errou ao se solidarizar com aqueles que invadiram nossa embaixada no Egito em vez de condenar suas ações”. A maioria dos analistas considerou as declarações do candidato “apressadas” e, mesmo jornalistas bem conservadores como Peggy Noonan, da FoxNews, alertaram que em momentos como este, “ a discrição é o melhor caminho”.
O motivo do ataque à representação diplomática americana foi a veiculação do filme Inocência dos Muçulmanos com ataques muito violentos à figura do profeta Maomé. A origem do filme é controvertida, bem como o financiamento de sua produção. O filme foi apoiado pelo pastor da Flórida, Terry Jones, que há um ano ameaçou queimar exemplares do Alcorão. É preciso lembrar que para os muçulmanos qualquer representação do profeta Maomé é uma blasfêmia.
A reação no mundo islâmico foi imediata com ataques às embaixadas americanas no Cairo, em Túnis e em cidades da Líbia. Na verdade, como apontaram vários especialistas em religião islâmica, esse tipo de ataque a fé islâmica oferece espaço para radicais religiosos que usam o fato para manifestações políticas contra lideranças mais moderadas.
O assassinato do embaixador americano abrirá um sério debate sobre os limites da liberdade de expressão. O valor religioso pode ser desprezado em nome da plena liberdade artística? Vale notar que o chefe do estado Maior das Forças Armadas dos Estados Unidos, general Michael Mullen, telefonou ontem ao pastor Terry Jones e pediu moderação nas suas ações e declarações.
Por outro lado, como é praxe nesses momentos nos Estados Unidos, a sociedade se congregou em torno da figura do Presidente. As afirmações de Romney não foram bem recebidas porque estavam baseadas em nota da embaixada dos EUA no Cairo, anterior ao assassinato do embaixador Stevens, que “lamentava os abusos de liberdade de expressão para atacar crenças religiosas de outras pessoas”. O tom conciliador da nota da embaixada era uma resposta às providências do governo egípcio que condenou o ataque à embaixada no Cairo e ofereceu segurança aos diplomatas estrangeiros.
Outro debate relativo a limites acontecerá sobre as fotos compradas pela agência France Presse sobre o corpo do embaixador Stevens, seminu, sendo carregado por líbios. A repercussão dessas fotos foi muito negativa por parte do governo americano e da família do embaixador morto.

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