O crescimento das exportações dos países emergentes caiu drasticamente neste ano, antes mesmo de as tarifas comerciais recentemente colocadas em prática pelos EUA começarem a ter impacto.
O crescimento dos volumes exportados pelos emergentes caiu de 6,5%, em fevereiro (ante o mesmo mês do ano passado), para apenas 1,8% em maio, o último mês com dados disponíveis, segundo cálculo do “Financial Times”, com base em números do CPB Netherlands Bureau for Policy Analysis, uma fonte de dados comerciais bastante usada. Os números são baseados na média móvel de três meses para amenizar a volatilidade excessiva, como mostrou matéria do Financial Times, assinada por Steve Johnson, publicada no Valor de 15/08.
A leitura de maio foi a menor desde outubro de 2016 e aponta para o fim dramático do “miniboom” nos volumes exportados pelos emergentes, embora em termos de valor as vendas ainda tenham crescido a uma taxa robusta, de 7,2%, graças em boa parte à alta do preço do petróleo nos últimos 12 meses.
Uma análise separada de Liam Carson, economista para mercados emergentes da consultoria Capital Economics, baseada numa série de dados de organismos como a Joint Organisations Data Initiative, também aponta para uma grande desaceleração dos volumes exportados pelos emergentes.
Embora os dados da Capital Economics sejam menos desanimadores que os do CPB – possivelmente devido a diferenças na maneira de corrigir o efeito do Ano Novo chinês, que neste ano caiu relativamente mais tarde – eles apontam para uma desaceleração do crescimento dos volumes de 3,5% anual, com base
na média de três meses, em relação ao pico cíclico de 6,1% em julho de 2017.
Carson observou essa desaceleração antes mesmo de os EUA aplicarem sua primeira rodada de tarifas sobre US$ 50 bilhões em exportações chinesas em junho.
Ele atribuiu grande parte da desaceleração ao menor crescimento econômico na zona do euro, onde o volume de importação de países emergentes caiu 2% em maio, segundo a Capital Economics, ante alta de 9,6% de julho de 2017.
Como a zona do euro absorve 16% das exportações dos emergentes, ela respondeu sozinha por cerca de 1,1 ponto percentual (ou cerca de 40%) da perda de 2,6 pontos percentuais no crescimento das exportações dos emergentes desde o terceiro trimestre de 2017.
Outras economias desenvolvidas, como Austrália, Japão, Reino Unido e EUA responderam por outro 0,9 ponto da desaceleração. O menor crescimento dos emergentes (exceto a China) foi responsável por mais 1,5 ponto, mas isso foi parcialmente compensado pela alta de 0,9 ponto nas exportações dos emergentes graças à demanda mais forte da China.
Dados separados da NN Investment Partners sugerem que a onda inicial de sanções americanas contra a China, e as medidas retaliatórias de Pequim, não parecem ter agravado a desaceleração das exportações dos emergentes, pelo menos até o mês passado.
A medida exclusiva da gestora de ativos holandesa, baseada em dados de exportação de 50 grandes países emergentes, mostrou crescimento de 17% (em dólar) em julho, ante julho de 2017. Grande parte disso, porém, se deveu à alta dos preços unitários, não só de commodities como petróleo, mas também das exportações chinesas.
Em termos de volume, o crescimento anual provavelmente ficou na faixa de 3% a 5%, segundo estimativa de Maarten-Jan Bakkum, estrategista sênior de mercados emergentes da NNIP. Embora isso represente uma desaceleração em relação à taxas de crescimento de 5% a 10% dos últimos anos, a taxa é tão boa ou melhor que as estimativas para maio da Capital Economics e do CPB.
“As ameaças protecionistas dos EUA ainda não aparecem nos dados”, diz Bakkum. “Vimos pouca mudança até agora.”
Mas ele crê que o crescimento das exportações dos emergentes, em dólar, cairá para cerca de 6%, quando o aumento ocorrido no petróleo sair da equação e o impacto das sanções sobre o comércio asiático começar a ser sentido.
Do lado positivo, Bakkum observa que o comércio com Europa, Japão e o resto do mundo emergente “está se mantendo bem”. A desvalorização recente das moedas de muitos países emergentes deverá ajudar na competitividade, e uma nova rodada de estímulos econômicos na China deva ajudar exportadores de commodities da América Latina e África, afirma ele.
Carson também acha que o ritmo das exportações dos emergentes vai desacelerar mais no segundo semestre, em boa parte porque dados sugerem cada vez mais que a desaceleração registrada no primeiro trimestre na zona do euro não é algo temporário e afetará a demanda, especialmente por produtos da Europa central e do leste.
As tarifas também poderão contribuir para a desaceleração das exportações, especialmente se os EUA prosseguirem com medidas visando outros US$ 200 bilhões em produtos chineses, conforme já sugeriu o presidente Donald Trump. Mas o impacto econômico de curto prazo se restringiria à própria China, segundo Carson.
A Capital Economics analisou o efeito dominó das tarifas dos EUA à China sobre as cadeias de fornecimento globais. O maior impacto é sobre Taiwan. Mas Carson acha que o efeito secundário sobre as cadeias de fornecimento será um problema mais de médio prazo, que ficará evidente nos próximos dois a três anos.
https://www.valor.com.br/internacional/5736353/miniboom-de-commodities-esta-acabando-diz-estudo#