Merkel rejeita elevar gasto alemão para ajudar Macron

Emmanuel Macron viu-se confrontado ontem por lembretes prementes dos desafios que terá pela frente como próximo presidente da França, mesmo enquanto aliados e alguns antigos rivais sinalizavam disposição de trabalhar ao seu lado.

A vitória do centrista, de 39 anos, sobre Marine Le Pen, da extrema-direita nacionalista, foi um grande alívio para os aliados da União Europeia (UE), que temiam mais uma reviravolta populista, depois do plebiscito em que os britânicos decidiram abandonar o bloco econômico e da vitória de Donald Trump na disputa presidencial nos EUA, como mostrou artigo da Reuters, assinado por Michel Rose e John Irish, publicado no Valor de 9/05.

“Ele carrega as esperanças de milhões de franceses e de muitos na Alemanha e em toda a Europa”, disse ontem a premiê da Alemanha, Angela Merkel, em Berlim.

“Ele realizou uma corajosa campanha pró-Europa, defendeu a abertura ao mundo e está decisivamente comprometido com uma economia social de mercado”, acrescentou a líder mais poderosa da UE, que parabenizou Macron por sua vitória “espetacular”.

Embora tenha se comprometido a ajudar a França a enfrentar o desemprego, Merkel rejeitou as sugestões de que a Alemanha tem de se esforçar mais para apoiar a economia da Europa, empenhando-se em elevar as suas importações provenientes de países do bloco econômico e, assim, diminuir o seu grande superávit comercial.

“Considerando a situação que temos na Alemanha, não acho que devemos dar agora prioridade a mudanças na nossa política”, disse Merkel, acrescentando que destacou que o principal foco do novo presidente francês deve ser na reforma das políticas domésticos. “O apoio da Alemanha não pode ser um substituto das políticas francesas. A França deve tomar suas próprias decisões e tomará suas próprias decisões.”

O presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, disse sem meias-palavras: “Com a França, temos um problema em particular […]. A França [o Estado francês] gasta demasiado dinheiro e eles gastam demais nos lugares errados. Isso não vai funcionar ao longo do tempo.”

O mau momento econômico da França, especialmente o alto desemprego, corroeu a popularidade do presidente que está deixando o cargo, o socialista François Hollande, a ponto de ele ter decidido nem se candidatar à reeleição.

“Neste ano, quis que Emmanuel Macron estivesse aqui comigo, para que a tocha pudesse ser repassada”, disse Hollande, aparecendo com Macron no Túmulo do Soldado Desconhecido, no Arco do Triunfo, em Paris, para comemorar o Dia da Vitória na Europa e a rendição das forças nazistas, em 8 de maio de 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial.

Em outros lugares em Paris, mais de 1.500 pessoas, comandadas pela central sindical CGT, marcharam em protesto contra os planos de Macron de liberalização das leis trabalhistas.

“Se ele continuar com a ideia de decretos executivos em julho, isso significa que ele vai acabar com a consulta e o diálogo, então vai haver problema de um jeito ou de outro. Vamos ver”, disse Jean-Claude Mailly, secretário-geral da central sindical de linha dura Force Ouvrière, à rádio France Info.

Quando tomar posse, neste domingo, como o líder mais jovem da França desde Napoleão, Macron também vai se deparar com o desafio imediato de garantir uma maioria na eleição legislativa de junho, para ter chances realistas de levar adiante seus planos de redução dos gastos públicos, aumento nos investimentos e reformas dos sistemas tributário, trabalhista e previdenciário.

Como os dois principais partidos tradicionais – o Republicanos, de tendência conservadora, e o Socialista, de esquerda – não avançaram ao segundo turno presidencial, as chances de Macron alcançar uma maioria parlamentar favorável a suas promessas eleitorais vão depender de que ele consiga ampliar a sua base centrista.

Os socialistas estão divididos entre a esquerda radical de seu candidato derrotado, Benoît Hamon, e a ramificação mais centrista e favorável às empresas, liderada por Manuel Valls, que foi primeiro-ministro no governo de Hollande.

Ontem, importantes membros da ala centrista do Republicanos mostraram-se dispostos a trabalhar ao lado de Macron, apesar de a direção partidária ter defendido a unidade e chamado esses vacilantes de “traidores”.

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