A indústria de livros eletrônicos está perigosamente próxima da estagnação. A venda do Kindle, o leitor de e-book da Amazon, que domina o mercado, vem caindo tanto que a rede britânica de livrarias Waterstones abandonou em outubro as vendas do aparelho. E a consultoria Gartner projetou para 2017 uma redução para a metade das unidades vendidas em 2014.
Por outro lado, as vendas dos próprios livros eletrônicos nos EUA, segundo a Associação Americana de Editoras, num levantamento com 1.200 delas, teriam caído 10% apenas nos primeiros cinco meses de 2015, como mostrou matéria da Folha de São Paulo, assinada por Nelson de Sá, publicada em 07/12
De passagem pelo Brasil, para marcar o terceiro ano da Amazon no país, o vice-presidente de conteúdo do Kindle, David Naggar, diz que não pode divulgar ou comentar números específicos de queda nas vendas do aparelho, mas acrescenta: “O que vou dizer é que aquilo com que nós nos preocupamos é com clientes comprando os livros da nossa loja [eletrônica]. Cabe ao consumidor escolher onde quer ler seus livros. Nós também produzimos aplicativos, o app Kindle que você pode baixar para iOS, Android, PC”.
Quanto à venda dos livros eletrônicos, propriamente, Naggar responde que a queda se refere àqueles produzidos e com preços definidos pelas editoras.
“Os e-books delas estão caindo. A nossa loja continua crescendo. O Kindle Unlimited [assinatura de e-book, semelhante ao Netflix, lançada em 2014 nos EUA e no Brasil] é parte disso, e também o crescimento da publicação independente.”
Ele não dá números absolutos, mas acrescenta que a venda de livros independentes, em “autopublicação” ou KDP (Kindle Direct Publishing), responde por 30% do total, na lista dos cem mais vendidos na loja brasileira.
“A proporção varia por país, mas não é só aqui. O avanço da publicação independente e do Unlimited manteve nossa loja crescendo.”
Autor de “Free Ride” (2012, Anchor), livro em que questiona os “parasitas digitais” de conteúdo, o jornalista Robert Levine diz que “a pegada da Amazon para o Kindle sempre foi que ‘e-books são o futuro, o Kindle é maravilhoso e o preço certo para qualquer livro é US$ 9,99”.
A queda na venda de livros resultou, também segundo ele, do rompimento dessa barreira de preço. Acrescenta Levine: “As pessoas estavam comprando Kindles e lendo e-books porque a Amazon estava mantendo o preço dos livros artificialmente baixo, para construir fatia de mercado?”.
Ele próprio diz que sim, em parte, mas David Naggar explica de outra maneira: “Cada país é diferente. O preço de US$ 10 era baseado nos EUA. Mas nós construímos negócios vibrantes com o Kindle em países com leis de preço fixo, como França, Alemanha, Espanha”.
O executivo acrescenta que US$ 9,99 continua sendo um preço de referência para e-books de lançamento nos EUA, porque pesquisas internas mostrariam que, mudando para US$ 14,99, as vendas caem 75%.