Mediadores começam a discutir condições para o fim da guerra

Autoridades do Egito e do Catar, que vêm atuando diretamente na mediação entre o governo de Israel e lideranças do Hamas, estão tentando agora fazer avançar as conversas em torno de uma trégua um pouco mais prolongada e a dar início a discussões que possam pôr um ponto-final na guerra.

Ontem – no quinto dia de uma trégua que foi ampliada para durar ao todo seis dias – o grupo palestino terrorista Hamas libertou mais 12 reféns enquanto Israel soltou 30 palestinos que estavam em prisões do país.

A troca de reféns por prisioneiros faz parte do acordo costurado por egípcios e cataris e que viabilizou a trégua nos bombardeios israelenses à Faixa de Gaza e nos lançamentos de mísseis por integrantes do Hamas

De acordo com autoridades que participam das negociações, um cessar-fogo de mais longo prazo provavelmente exigiria tanto do governo israelense quanto das lideranças do Hamas que aceitassem concessões que hoje parecem difíceis de serem aprovadas por ambos os lados. 

Entre essas concessões, a troca de soldados israelenses reféns por um número significativo – talvez milhares – de palestinos que estão em prisões israelenses. 

Além disso, outra concessão, que teria de ser feita pelo governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu seria a desistência da ofensiva militar no sul da Faixa de Gaza. Nas últimas semanas, milhares de palestinos fugiram para o sul, uma vez que os bombardeios iniciais de Israel se concentraram no norte do território palestino. 

Israel afirma que os ataques têm o objetivo de matar os principais líderes do Hamas e acabar com a sua estrutura bélica. 

Ainda de acordo com as autoridades que estão tentando mediar uma saída de longo prazo para o conflito entre Israel e Hamas, o grupo palestino teria de aceitar a ideia de se desmilitarizar. 

A guerra teve início depois de 7 de outubro, quando homens armados do Hamas entraram no território israelense e assassinaram indiscriminadamente, segundo autoridades de Israel, 1.200 pessoas. No mesmo dia, integrantes do Hamas também levaram para Gaza cerca de 240 reféns capturados em Israel. 

A reação das Forças Armadas israelenses veio em seguida com bombardeios que rapidamente devastaram cidades do norte da Faixa de Gaza e que já deixaram, segundo autoridade do Hamas (que governa a região) mais de 15 mil palestinos mortos. Mais de dois terços dos 2,3 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza perderam suas casas nos bombardeios de Israel. 

Após o início da trégua, o total de reféns libertados pelo grupo terrorista chegou ontem a 81, incluindo 60 mulheres e crianças israelenses e 21 estrangeiros, muitos deles trabalhadores rurais tailandeses. De seu lado, até ontem Israel havia libertado 150 prisioneiros palestinos. 

Em um sinal de que conversas a respeito de uma trégua mais longa com vistas ao fim da guerra estão sendo levadas a sério, o diretor da CIA, William Burns, pousou ontem no Catar, de acordo com uma autoridade do governo dos Estados Unidos e também de acordo com uma pessoa que vem acompanhando as discussões. 

Burns deve participar de reuniões com o chefe da agência de inteligência de Israel, o Mossad, David Barnea, e com autoridades de alto escalão do Catar, que mantêm um diálogo próximo com lideranças políticas do Hamas. 

O objetivo no momento é levar Israel e o Hamas a concordarem a ir além do acordo atual. Este arranjo foi desenhado para durar quatro dias e foi estendido até quinta de manhã com base na razão de um dia a mais de trégua nos bombardeios de Israel por cada dez reféns a mais que o Hamas libertar. 

Depois que mulheres e crianças saíram de seus cativeiros em Gaza, o ponto que está na mesa de negociações agora é a libertação de idosos e a liberação de corpos de soldados. 

Os mediadores do Catar e do Egito falam em ir muito além disso e de construírem uma pausa mais longa que evolua para um cessar-fogo permanente. Um cenário que vem sendo considerado por aliados de Israel é que, se a trégua atual perdurar por mais tempo, não apenas mais reféns serão libertados, mas também autoridades israelenses conseguirão mais tempo para preparar uma política para a Faixa de Gaza no pós-guerra. 

“Nós estamos tentando construir confiança e boa vontade para abrir a porta para uma paz de longo prazo”, disse uma importante autoridade do Egito, que não quis ter seu nome mencionado. “É uma caminho longo, mas até agora os dois lados recuaram de suas intenções de conseguir uma vantagem militar durante essa pausa e isso nos dá esperanças de que [uma paz mais duradoura] é factível.” 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/11/29/mediadores-comecam-a-discutir-condicoes-para-o-fim-da-guerra.ghtml

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