Macron reage a votação do Parlamento Europeu e dissolve Assembleia

A primeira grande repercussão política das eleições para o Parlamento Europeu veio da França, cerca de uma hora depois de conhecidas as primeiras projeções de resultados do voto no país.

Atropelado pelo bom desempenho do partido Reunião Nacional (RN), liderado pela ultradireitista Marine Le Pen, na oposição, o presidente Emmanuel Macron anunciou na noite deste domingo (9), a dissolução da Assembleia Nacional. Com isso, novas eleições legislativas foram convocadas para os dias 30 de junho e 7 de julho —primeiro e segundo turnos, respectivamente.

As datas coincidem com o início das férias escolares do verão europeu e, caso o segundo turno seja necessário, ele aconteceria cerca de 20 dias antes do início das Olimpíadas de Paris.

Segundo as projeções mais recentes, a sigla de Le Pen obteve 31,5% dos votos, mais que o dobro da aliança de Macron, que ficou com 14,5%. Foi um crescimento de mais de oito pontos percentuais, tanto em relação ao voto europeu de 2019 quanto ao primeiro turno da eleição presidencial de 2022, quando o RN ficou na casa dos 23%.

Se confirmados com a oficialização dos resultados, os números darão 30 das 81 vagas da França ao RN, que, no Parlamento Europeu, faz parte da bancada Identidade e Democracia (ID).

“Não foi um bom resultado para os partidos que defendem a Europa”, disse Macron em pronunciamento à nação. “Partidos de ultradireita, que se opuseram nos últimos anos a tantos dos avanços possibilitados pela nossa Europa estão ganhando terreno pelo continente. Não poderia, no fim deste dia, agir como se nada estivesse acontecendo.”

Le Pen, por sua vez, não poupou o adversário e buscou personalizar a derrota do presidente. “O povo francês mandou uma mensagem clara ao poder macronista, que está se desintegrando: já não querem uma construção europeia tecnocrática que nega a sua história, despreza as suas prerrogativas fundamentais e que resulta na perda de influência, identidade e liberdade”, disse a ultradireitista.

O principal candidato do RN ao Parlamento Europeu, Jordan Bardella, havia pedido que Macron dissolvesse a Assembleia e convocasse novas eleições. “Um vento de esperança surgiu na França, está apenas começando”, disse.

Segundo o jornal Le Monde, o percentual do RN foi o melhor resultado de um partido francês nas eleições europeias em 40 anos. A decisão de dissolver a Assembleia é a primeira do tipo desde 1997, quando Jacques Chirac, de direita, antecipou as eleições legislativas, que acabaram vencidas pela oposição, de esquerda. Foram cinco anos de uma espécie de coabitação, quando o presidente e o primeiro-ministro eram de forças políticas opostas. Caso vença a maioria nas eleições antecipadas, o RN poderia reivindicar o cargo de primeiro-ministro e repetir esse cenário sob Macron.

O resultado deste domingo pode influenciar não só a disputa política interna na França. O enfraquecimento de Macron, cujo mandato vai até 2027, é também um sinal negativo para a União Europeia, já que ele é um dos principais líderes hoje em defesa de maior integração, e para a aliança de países ocidentais que apoiam a Ucrânia.

Nas eleições legislativas ocorridas em 2022, em seguida ao segundo turno da disputa presidencial, vencida por Macron, sua coligação obteve 25% e ficou com 245 cadeiras, sem a maioria absoluta dos votos na Assembleia, que seria de 289 assentos.

Há quase dois anos, o grupo de Le Pen, que ficou em terceiro, já tinha dado indicações de que conquistava cada vez mais a preferência de eleitores. O RN obteve 89 cadeiras, um salto de 81 vagas.

O resultado foi um sinal das dificuldades que Macron enfrentaria no segundo mandato. Sem maioria absoluta, seu governo foi obrigado a lançar mão de poderes executivos, previstos no artigo 49.3 da Constituição, passando por cima do voto legislativo, em dezenas de ocasiões.

Em uma das mais polêmicas, o mecanismo permitiu a aprovação de uma contestada reforma da Previdência, em março do ano passado, segundo a qual a idade mínima de aposentadoria subirá de 62 para 64 anos gradualmente até 2030.

O período da tramitação foi marcado por greves e protestos de trabalhadores de escolas, transporte público, refinarias e centrais sindicais. Foram as maiores mobilizações em uma década na França, que chegou a ter 2 milhões de pessoas nas ruas das grandes cidades.

Em outro movimento conturbado, Macron, assistindo ao crescimento da ultradireita nas pesquisas, promoveu a aprovação de um projeto de leis que endureceu as regras de imigração no país. Na ocasião, o projeto contou com o apoio da sigla de Le Pen, que considerou o seu conteúdo “uma grande vitória ideológica”, causando constrangimento ao presidente de centro.

Em janeiro, ciente do desgaste que seu governo enfrentava e buscando melhorar sua aprovação interna antes das eleições europeias, Macron demitiu a primeira-ministra Élisabeth Borne e a substituiu pelo jovem Gabriel Attal. Resta saber quais os próximos passos do presidente para tentar recuperar seu fôlego político.

https://www1.folha.uol.com.br/mundo/2024/06/macron-reage-a-votacao-do-parlamento-europeu-e-dissolve-assembleia-nacional.shtml

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