Japão conseguiu 15% devido a mecanismo financeiro ‘inovador’, diz Bessent

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, afirmou que o acordo com o Japão e a redução de tarifas recíprocas foram possíveis somente após os japoneses oferecerem um “mecanismo inovador de financiamento”.

Em entrevista à Bloomberg TV, Bessent disse que o novo sistema consistirá na provisão de ativos e fundos, formando um novo capital que será redirecionado para “indústrias específicas” para eliminar riscos nas cadeias de oferta.

“O Japão conseguiu tarifas de 15% por conta do mecanismo inovador. Mas a União Europeia (UE) ainda não teve nada inovador”, respondeu, ao ser questionado sobre a diferença nas negociações entre os parceiros comerciais.

Contudo, Bessent afirmou que as negociações com contrapartes europeias estão avançando e alegou que as ameaças de retaliação são apenas táticas de negociação. Outra diferença apontada por ele quanto à velocidade para chegar a um acordo é a dificuldade de se obter consenso no bloco que representa 27 países.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou na terça-feira, 22, ter fechado um acordo comercial com o Japão. Conforme o acordo, o país asiático pagará uma alíquota de 15%, ante os 25% impostos no começo de julho, e investirá — sob a “orientação” de Trump — US$ 550 bilhões nos Estados Unidos, que, conforme o presidente americano, receberão 90% dos lucros.

Trump comentou que o acordo inclui uma joint venture (empreendimento conjunto) com o país asiático no Alasca para produção de Gás Natural Liquefeito (GNL). O principal negociador tarifário do Japão, Ryosei Akazawa, afirmou que “a missão foi cumprida”, fazendo referência ao acordo. “Um grande obrigado a todos os envolvidos”, escreveu na rede social X.

Negociações com a China

Bessent disse esperar avançar em questões maiores durante negociações comerciais com a China, considerando que ambos os países estão em uma “boa posição” no momento. “Podemos conseguir um grande e lindo reequilíbrio com a China”, afirmou, acrescentando que o prazo final para um acordo pode ser estendido em mais 90 dias, se necessário.

O secretário defendeu que a potência asiática precisa reestruturar sua economia para ser mais “consumidora”, reduzindo a participação de aproximadamente 30% na indústria global. “Não é sustentável”, disse.

Ele disse que pretende restabelecer acordo de compras com a China para equilibrar a relação em diversas áreas, como agricultura e ovos. Ao ser questionado, Bessent apontou que os chineses cumpriram um acordo semelhante no primeiro mandato de Trump, que, segundo ele, somente deixou de ser cumprido na gestão de Joe Biden. “O importante é que estamos de volta nas negociações”, ressaltou.

Bessent negou ter informações sobre datas para uma possível visita de Trump ao presidente da China, Xi Jinping, em Pequim, afirmando que não sabe a agenda do republicano após setembro. “Sei que Xi convidou Trump e que eles têm relação fantástica”, disse.

O secretário americano também descartou a ideia de que os Estados Unidos buscam desacoplar completamente sua economia da China, mas querem reduzir riscos das cadeias de oferta, e minimizou preocupações sobre a retomada de exportações de semicondutores. “O H20 não é o chip mais avançado da Nvidia, não acredito que teremos problemas”, respondeu, ao ser questionado se a decisão pode representar riscos para a segurança nacional.

Bessent afirmou que pretende endereçar outras questões nas negociações, incluindo a decisão da China de impedir as saídas de um banqueiro americano do Wells Fargo e de um funcionário do Departamento do Comércio do país. “Posso dizer que isso não trará nenhuma vantagem comigo”, disse. Entre outros temas, o secretário também pretende falar sobre as compras chinesas de petróleo da Rússia e do Irã.

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