Inteligência artificial? Está mais perto do que parece?

O futuro chegou. Verdade? O temor de que as abominações criadas pelos homens se tornem seus senhores não é novo. Mas, na boca de um cosmólogo renomado, de um executivo do Vale do Silício e do fundador da Microsoft – gente que está longe de ser inimiga da tecnologia -, e tendo em vista o investimento enorme em IA que empresas do porte do Google e da Microsoft vêm fazendo, esse medo adquiriu uma dimensão nova.

Com supercomputadores nos bolsos de todas as pessoas e robôs dando rasantes sobre campos de batalha, desdenhá-lo como mera ficção científica parece autoengano. A questão é como se preocupar de maneira sensata.

O primeiro passo é entender o que os computadores são capazes de fazer hoje e o que provavelmente serão capazes de fazer no futuro. Graças ao aumento na capacidade de processamento e à abundância de dados digitalmente disponíveis, assiste-se a uma forte expansão das possibilidades da inteligência artificial, IA, como mostrou artigo da The Economist, publicado no Estadão de 8/05, pg B14.

Atualmente, os sistemas de “aprendizagem profunda”, que simulam as camadas de neurônios do cérebro humano e processam quantidades gigantescas de dados, aprendem por conta própria a executar algumas tarefas – do reconhecimento de padrões à tradução de textos – quase tão bem quanto uma pessoa. Em razão disso, coisas que antes requeriam a presença de uma mente ativa – desde interpretar figuras a jogar o videogame Frogger – agora estão ao alcance de programas de computador. O algoritmo DeepFace, apresentado pelo Facebook em 2014, reconhece o rosto das pessoas em 97% das vezes.

O fundamental é que se trata de uma habilidade limitada e específica. O que garante a aparência de inteligência da IA nos hoje é a força bruta do processamento de dados, não havendo, por ora, possibilidade de que imitem o modo como a mente dota os seres humanos de autonomia, interesses e desejos. Os computadores ainda não dispõem de nada que se aproxime da capacidade mais abrangente e fluida que permite fazer inferências, proferir julgamentos e tomar decisões.

No entanto, a IA já é suficientemente poderosa para fazer uma diferença drástica na vida dos homens. Ela já pode ampliar o alcance das iniciativas humanas complementando o que as pessoas são capazes de fazer. Basta pensar no xadrez – hoje, os computadores são melhores do que qualquer ser humano. Acontece que os melhores enxadristas do mundo não são máquinas, mas aquilo que o grande mestre Garry Kasparov chama de “centauros”: amálgamas de seres humanos e algoritmos.

E mesmo onde os ganhos para a sociedade são grandes, muitos indivíduos serão prejudicados pela IA. Os primeiros “computadores” eram verdadeiros carregadores de piano, com frequência mulheres, encarregados de executar um sem fim de cálculos para seus superiores. Os transistores tomaram seus lugares. Do mesmo modo, a IA provavelmente colocará no olho da rua enormes contingentes de funcionários que hoje executam atividades administrativas. A solução será recorrer a mais educação e capacitação. Além disso, a riqueza produzida com a ajuda da IA será gasta em novas iniciativas que gerarão novos empregos. Mas os trabalhadores têm de se preparar para um período de incertezas.

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