Índia, China e Rússia se reúnem por segurança, mas foco é o dólar

Enquanto ecoava a coroação na Inglaterra, a Índia se voltou para outra cerimônia, o encontro de chanceleres da Organização para a Cooperação de Xangai (SCO, da sigla em inglês) em Goa.

Neste ano o país preside o grupo, que é tratado na cobertura como um Brics para segurança nacional, e seu célebre ministro S Jaishankar recepcionou até o colega paquistanês Bilawal Bhutto. Por jornais como Jagran, em hindi, salientaram-se suas críticas abertas, como “o Paquistão é o porta-voz da indústria terrorista”.

Mas o foco era a China. Pela segunda vez em dois meses, Jaishankar se reuniu com o chinês Qin Gang, para avançar mais um pouco na solução da disputa de fronteira, como mostraram Times of India e Global Times, entre outros. Ao fundo, porém, estava a saída do dólar.

Por indianos como Economic Times, a Bloomberg e a Reuters noticiaram, dos bastidores da SCO na Índia, que Moscou negocia com Nova Déli para receber os pagamentos por armamentos, petróleo e gás em outras moedas, não a indiana rúpia nem o dólar americano.

Segundo uma autoridade indiana, “a Rússia quer ser paga em yuan”.

Não por coincidência, o site Axios noticiou que o assessor de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan, correu a Riad para se reunir ainda no fim de semana com seus colegas de Arábia Saudita, Emirados Árabes e Índia. Os dois primeiros acabam de se filiar à SCO como “parceiros”.

Sullivan iria oferecer investimento americano para construir uma rede de ferrovias, para escoar petróleo a ser pago em dólar, em oposição à chinesa Iniciativa Cinturão e Rota, anota o Axios.

CINTURÃO SE AMPLIA

Indian Express e Hindustan Times avaliam que a SCO, como o Brics, vai sendo dominada pela ascensão da China, com os membros se ligando à Cinturão e Rota.

Ainda assim, são úteis à Índia para “convergir com os companheiros” dos dois grupos, “enfatizar sua proximidade com Moscou” e, no caso da SCO, “se manter envolvida na discussão regional”, da Ásia Central, sobre questões como o Afeganistão, “da qual ficaria excluída”.

Segundo a Bloomberg, no domingo também o Afeganistão entrou para a Cinturão e Rota, num encontro em Islamabad entre Qin, Bhutto e seu colega afegão Amir Khan Muttaqi.

BUFFETT E A FÉ NA MOEDA

Outro evento global que ganhou atenção, até na China, foi o encontro anual do grupo do investidor Warren Buffett, 92, quando este e seu vice e sucessor, Charlie Munger, conversam com investidores (acima). A CNBC separou os destaques. Pergunta uma jovem:

“Pretendem monetizar a dívida [dos EUA] imprimindo trilhões. Antecipando-se a isso, já estão se afastando do dólar grandes economias como China, Arábia Saudita e Brasil. Enfrentaremos um momento, no futuro, em que o dólar não será mais a moeda global de reserva? O que nós, cidadãos americanos, podemos fazer para nos resguardar do que parece ser o início da desdolarização?”.

Com a jovem sob aplausos, Buffett sorriu e respondeu:

“É muito interessante. Nós somos a moeda de reserva, não vejo outra opção. [Mas] ninguém sabe até onde você pode ir antes que saia do controle. Você não vai querer escolher o ponto em que vai virar um problema, porque então estará tudo acabado. Devemos ter muito cuidado. É fácil para a América fazer muito, mas, se fizermos demais, é difícil ver como se recupera, uma vez que você deixa o gênio sair da garrafa e as pessoas perdem a fé na moeda. Todos os tipos de coisas podem acontecer. Não consigo prever, mas sei que não são boas. Nós vamos ver. Você espera por uma liderança que reconheça o problema. A América é rica, temos tudo a nosso favor, mas isso não quer dizer que podemos simplesmente imprimir dinheiro indefinidamente.”

https://www1.folha.uol.com.br/colunas/nelsondesa/2023/05/india-china-e-russia-se-reunem-por-seguranca-mas-foco-e-o-dolar.shtml

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