IBGE: renda mudou o consumo. Os mais pobres estão menos pobres.

A parcela dos brasileiros que é muito pobre ficou menos pobre nos últimos dez anos. Tecnicamente, o que aconteceu é que desde 2000 o Brasil reduziu muito a distância entre os mais ricos e os mais pobres. O estudo que mostrou esse fato é do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, IPEA, e foi feito a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE.
O estudo constatou dois fatos. Primeiro, nas séries estatísticas do IBGE, não há registro de redução de desigualdade tão forte como o que aconteceu desde o início dos anos 2000. Segundo, apesar dessa conquista, a desigualdade de renda no Brasil ainda está entre as 12 mais altas do mundo. O nome do estudo do IPEA é “A década inclusiva (2001-2011) Desigualdade, Pobreza e Políticas de Renda” e está disponível no site do instituto.
Uma das principais conclusões do estudo é que ao longo desses anos, 2001 até 2011, a renda per capita dos 10% mais ricos cresceu 16% em termos acumulados enquanto a renda dos 10% mais pobres avançou 91,2% no mesmo período. O presidente do IPEA, o economista Marcelo Nery, ponderou: “em uma conta simples, os mais pobres tiveram crescimento de renda 5 vezes mais rápida do que a dos mais ricos nesses anos”. Em termos técnicos, para os mais pobres ocorreu um crescimento de renda de 9% ao ano.
O estudo mostrou que as políticas adotadas reduziram o indicador de desigualdade. Durante muito tempo, desde a década de 1970, o Brasil pouco mudou sua posição no chamado Índice de Gini, que vai de zero a um e quanto mais baixo o número menor a desigualdade; Entre 1970 e meados da década de 90, o Brasil sempre fiou perto do 0,6 neste índice. Em 2001, o Brasil estava em 0,59 e em 2011 caiu para 0,51.
Diferentes fontes de renda explicam essa redução de desigualdade. O primeiro editorial do Estadão de hoje mostrou uma conta muito importante: a fonte de renda que mais reduziu a desigualdade foi o trabalho, responsável por 58% da mudança de renda dos mais pobres. Depois, a segunda fonte foi a melhoria na Previdência, responsável por 19% da redução, seguida do Programa Bolsa Família, com 13%. Os benefícios de “prestação continuada” dado a idosos muito pobres e deficientes ajudaram a reduzir a desigualdade em 6%.
Portanto, o aumento da renda do trabalho foi o fator mais relevante para essa diminuição. Os economistas do IPEA mostraram o peso da renda do trabalho na diminuição da desigualdade que decorreu principalmente da valorização do salário real, ou seja, aumentos de remuneração acima da inflação. Especialmente no salário mínimo.
O estudo do IPEA insistiu em um aspecto essencial na diminuição da pobreza: o controle da inflação. A política de melhor distribuição de renda por meio de salários ou por transferência de recursos (as ajudas oficiais) não teria “efeito duradouro” em ambiente de alta inflação, como o que existia antes do Plano Real de 1994. Aumento real de salários e expansão do emprego foram responsáveis, como mostrou o IPEA, pela redução de quase um ponto no Índice de Gini. Todo perfil de consumo no Brasil mudou a partir dessa realidade estatística. Um bom debate é saber como acelerar mais essa conquista: afinal, estar ainda entre os 12 países mais desiguais do mundo não é uma boa posição.

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