As chamadas tarifas recíprocas que o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou podem custar de US$ 700 bilhões a US$ 1,4 trilhão à economia global se forem aplicadas em todo o mundo, apontam dois estudos. Os EUA serão os mais atingidos pelo aumento de preço das importações.
As alíquotas – que terão como base as tarifas e outras barreiras que cada parceiro comercial impõe aos EUA – vão “começar para todos”, disse Trump no domingo.
Ontem, a secretária de Imprensa, da Casa Branca, Karoline Leavitt, adiantou ontem que as tarifas recíprocas “entrarão em vigor imediatamente”. Ela rejeitou os alertas de economistas de que os assessores de Trump possam estar equivocados sobre os efeitos “positivos” das tarifas e os riscos à economia dos EUA. “Eles não estão errados”, disse a secretária de Imprensa da Casa Branca. “O presidente tem uma equipe brilhante de assessores que estudam essas questões há décadas, e estamos focados em restaurar a era de ouro dos EUA.” Uma tarifa adicional de 25% sobre os carros e autopeças importados entrará em vigor amanhã.
O Instituto das Economias em Desenvolvimento, ligado à Organização de Comércio Exterior do Japão (Jetro, na sigla em inglês), estima que as tarifas recíprocas, somadas às automotivas e às de 20% sobre os produtos chineses, derrubarão o Produto Interno Bruto (PIB) mundial em 0,6% em 2027. Isso equivale a US$ 763 bilhões, com base na projeção do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o PIB de 2027, de US$ 127 trilhões.
Os próprios EUA sofrerão o maior golpe, segundo a Jetro, que prevê uma queda de 2,7% no PIB americano de 2027. O aumento nos preços das importações impactará os lucros das empresas americanas que dependem de componentes chineses.
Outro estudo, da Universidade Aston, no Reino Unido, mostra que tarifas de 25% sobre todas as importações, seguidas de retaliações na mesma alíquota – o pior dos cenários – devem causar um impacto de US$ 1,4 trilhão na economia mundial e elevar drasticamente os preços nos EUA. Neste caso, a guerra tarifária causaria uma ruptura generalizada do comércio, alta de preços e queda acentuada nos padrões de vida.
A análise leva em conta como uma retribuição tarifária forçaria mudanças complexas no comércio global, começando na América doNorte entre os EUA, México e Canadá, antes de se espalhar para a Europa e o restante do mundo. Jun Du, professora de economia na Universidade Aston e uma das autoras do estudo, disse que a modelagem mostrou que se os países impuserem tarifas de 25% uns aos outros, isso teria efeitos semelhantes ao da guerra comercial de 1930 que aprofundou a Grande Depressão.
“Essas descobertas se alinham com antecedentes históricos como as tarifas da Lei Smoot-Hawley [que elevou as tarifas de importações dos EUA sobre mais de 20 mil bens nos anos 30] e os conflitos comerciais modernos, ilustrando como o protecionismo corroeu a competitividade, interrompeu as cadeias de suprimentos e impôs custos desproporcionais aos consumidores”, escreveu ela.
A contração no comércio deve levar ao aumento da inflação e ter um impacto negativo no padrão de vida medido em termos reais de PIB per capita. Segundo o estudo da Aston, em uma guerra comercial global total, onde os parceiros retaliam para igualar as tarifas de Trump, os EUA experimentariam os piores efeitos inflacionários do que qualquer outra nação – em torno dos 5,5% entre 5 e 10 anos.
As tarifas automotivas também deverão ter uma grande influência na disrupção do comércio, uma vez que o aumento no preço dos veículos deixará os consumidores com menos dinheiro para gastar em outros bens ou serviços. Um relatório divulgado na sexta-feira, pelo The Budget Lab, da Universidade de Yale, estima que só as alíquotas sobre as importações de carros e autopeças provocariam uma queda entre US$ 492 e US$ 615 na renda das famílias.
Trump tem chamado o dia 2 de abril de o “Dia da Libertação”, descrevendo-o como o dia em que os EUA colocarão um fim à prática de outros países de “tomar nossos empregos, nossa riqueza, um monte de coisas que eles vêm tomando ao longo dos anos”. Espera-se um evento de divulgação espalhafatoso do presidente, previsto para as 17h (de Brasília) de hoje, no Jardim das Rosas, na Casa Branca.Trump e seus auxiliares sustentam que a reciprocidade nas tarifas poderá substituir o imposto de renda como principal fonte de arrecadação tributária do país.
No domingo, Peter Navarro, principal assessor para comércio e indústria, disse que as novas tarifas, incluindo as recíprocas, gerarão US$ 6 trilhões de receita em dez anos. Navarro, entre outras figuras, já disse várias vezes que os aumentos de tarifas representam um corte de impostos. Alguns eleitores aceitam esse argumento, acreditando que os consumidores americanos não sofrerão, pois as tarifas serão pagas por empresas estrangeiras. Na verdade, são as empresas nos EUA que precisarão pagar as tarifas.
Se esses custos forem repassados, serão os consumidores americanos os que acabarão pagando pelas onda de tarifas.