Grana do BNDES desenha o perfil do novo “bom emprego”

O desenho do futuro do Brasil vai mudar. Um bom jeito de ver isso é observar o perfil dos investimentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, BNDES, o banco que empresta dinheiro para as empresas crescerem. Ou, em outras palavras, os setores em que o banco colocar dinheiro, como a história da economia brasileira mostra, serão os que mais devem decolar nos próximos anos.
A primeira mudança está na perda de foco dos setores mais ligados à venda das chamadas commodities metálicas, minério de ferro por exemplo. Motivo: incertezas sobre o avanço da economia europeia e provável desaceleração do crescimento na China. Quem ocupou o lugar desse interesse foram os setores mais voltados para a demanda doméstica. Ou seja, em termos bem práticos os investimentos do BNDES na indústria automobilística desbancou a siderurgia no ranking de interesse do banco.
A siderurgia, que já recebeu 70% dos investimentos do BNDES, agora foi para o quarto lugar. Foi ultrapassada pelas montadoras de carros que devem investir R$ 60 bilhões no Brasil nos próximos quatro anos. O que fará diferença no curto prazo serão os investimentos voltados para o consumo das famílias. Toda a dinâmica da economia parece estar voltada para ao avanço do crédito, emprego e renda no Brasil.
Essa decisão não afeta o “rei petróleo”. Na liderança dos investimentos do BNDES estão os aportes em petróleo e gás, mais de 40% do total do dinheiro investido pelo banco em todo o setor industrial. A razão é conhecida: o pré sal. A matéria do Estadão, publicada em 16 de setembro na página B6 dá todos os detalhes dessa decisão de manter os investimentos na área de petróleo.
O motivo do “olho gordo” na indústria automobilística brasileira é o baixo nível de motorização do País. Dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram porque o BNDES ajudará tanto esses investimentos. Na Europa há um veículo para cada 1,7 pessoa, nos EUA um para cada pessoa enquanto na Argentina é 1 carro para cada 4 pessoas. No Brasil essa relação é de 1 carro para cada seis pessoas. Isto quer dizer que poucos mercados tem o potencial de crescimento do mundo nessa área. Sem esquecer que investir em montadoras quer dizer multiplicar uma cadeia de fornecedores calculada em mais de 200 mil empresas pelos economistas do BNDES.
Mas, e o setor siderúrgico. Os economistas do banco dizem que sobra aço no mundo pelo desaquecimento das principais economias. Só no Brasil a sobra de capacidade, segundo o Instituto Aço Brasil, é de 68% da produção.
O futuro irá, no curto e médio prazo, na direção das empresas de petróleo e de consumo, não mais tanto na mineração ou siderúrgicas e seus negócios correlatos. Pelo menos, por enquanto. O perfil do mercado de trabalho no País mudará junto com os novos investimentos. As carreiras e as ambições profissionais irão junto

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