Google unificará sistemas Chrome e Android

O previsível aconteceu. Em um sinal da crescente dominância da computação móvel, o Google, parte da holding Alphabet Inc., decidiu incorporar seu sistema operacional Chrome, para computadores pessoais, ao seu sistema operacional para dispositivos móveis Android.

Os engenheiros do Google estão trabalhando há cerca de dois anos para combinar os sistemas operacionais e vêm fazendo progressos, segundo duas pessoas. O Google deve revelar seu novo sistema operacional unificado em 2017, mas deve apresentar uma versão preliminar já em 2016, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Alistair Barr, publicada no Valor de 3/11, pg B10.

O Android é o sistema operacional mais utilizado no mundo, rodando em mais de um bilhão de celulares e outros dispositivos fabricados por várias empresas. O Chrome é usado em computadores, a maioria laptops chamados Chromebooks. Eles representam menos de 3% dos PCs existentes, segundo a firma IDC.

A mudança é um reconhecimento esperado há tempos de que as diferentes abordagens de computação incorporadas pelo Android e pelo Chrome não são mais relevantes para o Google.

O Chrome OS foi o resultado dos esforços do Google para levar a web e a experiência centrada em um navegador para mais aparelhos, encorajando os usuários a acessar software e aplicativos por meio do navegador Chrome em laptops mais baratos. Já o Android era visto como uma abordagem quase retrógrada na empresa por se concentrar em aparelhos que só funcionavam quando o software ou apps eram baixados nesses dispositivos.

O Google não sabia qual abordagem teria sucesso, então levou adiante ambas, e debates internos saudáveis se seguiram. À medida que o uso de dispositivos móveis e de apps cresceu, o Android acabou prevalecendo.

A mudança também é uma tentativa do Google de ter o Android rodando no maior número de aparelhos possível para atingir o maior número de pessoas possível. O sistema operacional funciona em celulares, tablets, relógios, TVs e sistemas de informação e entretenimento de carros. Ao acrescentar os laptops, a base de usuários do Android poderia crescer consideravelmente, o que ajudaria o Google a atrair mais desenvolvedores de fora que queiram criar apps que funcionem no maior número de dispositivos possível, necessitando apenas de poucas modificações.

A nova versão do Android dará aos usuários de PCs acesso à loja Play do Google, que oferece mais de um milhão de apps, dizem fontes. Os Chromebooks terão um novo nome, ainda não definido. O Google planeja manter o nome Chrome para seu navegador de internet, que opera tanto em PCs quanto em dispositivos móveis.

O Chrome OS vai continuar sendo um sistema operacional de código aberto que outras empresas podem usar para fabricar laptops, e os engenheiros do Google vão continuar trabalhando nele. O foco do Google, porém, será em estender o uso do Android para laptops, de acordo com uma das fontes.

O diretor-presidente do Google, Sundar Pichai, que liderou o desenvolvimento do sistema operacional Chrome, em 2009, disse a analistas em uma teleconferência no mês passado que “o dispositivo móvel como um paradigma da computação irá, no fim, unir-se ao que nós chamamos de desktop hoje”.

A Microsoft Corp. adotou uma estratégia similar, criando versões de seu sistema operacional Windows 10 para operar em PCs e celulares, permitindo que alguns aplicativos funcionem nos dois dispositivos.

Já a Apple Inc. possui dois sistemas operacionais distintos: o iOS para os smartphones e tablets e o OS X para os PCs Mac. O diretor-presidente Tim Cook disse no mês passado que a combinação dos dois iria “subtrair de ambos, e você não obteria a melhor experiência em nenhum dos dois”.

As especulações sobre a união dos dois sistemas são antigas. Pichai assumiu a liderança do Android, bem como do Chrome, em 2013, quando um dos fundadores do Android, Andy Rubin, foi transferido para um projeto de robótica. No ano passado, ele nomeou Hiroshi Lockheimer, vice-presidente de engenharia para o Android, para também supervisionar o sistema operacional Chrome. Em setembro, o Google apresentou um tablet destinado aos locais de trabalho chamado Pixel C, que funciona com o Android. É o primeiro dispositivo da linha Pixel de laptops e tablets a não usar o sistema operacional Chrome. No ano passado, o Google tornou alguns apps para Android disponíveis para os Chromebooks.

O Chrome e o Android compartilham uma herança comum no software de código aberto Linux. Mas eles se diferenciam de forma significativa e combiná-los não é uma tarefa fácil, segundo pessoas a par do projeto.

Os laptops possuem teclados e telas maiores que os dispositivos móveis, então os usuários frequentemente usam muitos apps simultaneamente e transferem conteúdo entre eles. Os smartphones e tablets Android podem operar vários apps, mas eles não podem ser exibidos na tela ao mesmo tempo, o que dificulta que os usuários migrem de um app para outro.

Os usuários do Chromebook não têm muitos apps à disposição porque os desenvolvedores têm relutado em criar aplicativos para uma base tão pequena de usuários. Unir os dois sistemas é “provavelmente a tacada certa para o Google”, diz Alex Davis, gerente de engenharia que desenvolve apps para o site de aluguel de imóveis de temporada Airbnb.

Unir o Chrome e o Android também deve ajudar o Google a conquistar mais clientes em locais de trabalho com seus apps de produtividade, como o Docs e Sheets, que funcionariam mais facilmente em diferentes dispositivos. À medida que empregados trabalham mais usando smartphones e tablets, eles esperam que o software e seus arquivos sejam atualizados nesses dispositivos em conjunto com os PCs. Enquanto tiver dois sistemas operacionais, isso será um desafio para o Google.

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