Gigantes de tecnologia tentam despistar com jargões

Mostrar menos. Filtrar mais. Restaurar a privacidade. O Vale do Silício finalmente está escutando este apelo – ao menos quando se trata da sua própria informação.
Tome-se a recente temporada de divulgação de resultados, quando as maiores empresas de tecnologia fizeram de tudo para mudar as regras e camuflar suas práticas durante sua interação trimestral com os investidores.
A Apple parou de divulgar quantos iPhones vende; em vez disso, fornecerá “periodicamente” um número geral de aparelhos em uso.
Mudanças nas métricas usadas para medir desempenho permitem a esses grupos enterrar as más notícia s
O Facebook informou que agora vai se concentrar nos indicadores de sua “família” de aplicativos, e “descontinuará gradualmente” os dados sobre seu principal site.
O Twitter anunciou que inventou um novo indicador, chamado “usuários monetizáveis ativos diariamente”, e vai parar de fornecer o número de usuários ativos mensalmente.
O Google, que encontra respostas para usuários da internet do mundo todo, é muito bom em não responder questões sobre si mesmo. A teleconferência trimestral tornou-se um espetáculo de arte performática, no qual analistas tentam valentemente vislumbrar qualquer dado comparável e são sempre esnobados. “Não parece que vocês querem compartilhar uma atualização da evolução da receita Mas eu estava me perguntando se talvez vocês pudessem nos contar o que estão vendo”, foi a tentativa queixosa do analista do normalmente durão Goldman Sachs.
A resposta veio em frases cheias de jargões, sem números que se aproveitassem. Talvez as máquinas já tenham suplantado os humanos na sede do Google.
A maioria dessas mudanças na divulgação de resultados vem acompanhada de razões. A Apple insiste que se tornou uma empresa de serviços e o número bruto de vendas de aparelhos num determinado trimestre não é mais relevante. O Facebook alega que faz mais sentido considerar os dois bilhões de pessoas que usam Facebook, Instagram, Messenger e WhatsApp do que qualquer um dos aplicativos individualmente. O Twitter considera que é melhor analisar pessoas que se logam todos os dias e usam uma versão do site que exibe anúncios.
Mas a mudança ocorre invariavelmente justo quando os indicadores estabelecidos começam a azedar. A alteração permite às empresas enterrar as más notícias. As vendas de unidades do iPhone da Apple estão encolhendo. O Facebook pode usar o filho perdulário de sua “família”, o WhatsApp, o serviço de mensagens que não gera quase nenhuma receita, para disfarçar o declínio em seu principal site sustentado por anúncios. O número mensal de usuários do Twitter está caindo. A Alphabet, dona do Google, é sempre sentenciosa, mas isso é particularmente irritante quando a holding está sofrendo o efeito de uma espiral crescente de custos.
Os investidores gostariam de decidir por si mesmos se a vida útil de um indicador acabou. Eles têm pouca chance de forçar este assunto com muitas gigantes de tecnologia, cujos fundadores possuem superdireitos de voto. Tudo o que podem usar é o constrangimento.
Mas eles deveriam se preparar para adotar uma posição firme com a próxima geração de unicórnios [empresas de tecnologia avaliadas em mais de US$ 1 bilhão] que está a ponto de tentar uma migração em massa para os mercados abertos. As indicações são de que essa tropa será ainda pior. Pelo menos Apple, Facebook, Alphabet e Twitter ganham dinheiro – coletivamente, US$ 113 bilhões em lucro líquido.
Empresas como o Uber vão ter de lutar para mostrar um caminho para esse tipo de ganho e serão tentadas a recorrer à cirurgia plástica nas suas declarações de resultados. Algumas, como a WeWork, já se permitem usar indicadores idiossincráticos, como ganhos “ajustados pela comunidade”, que removem quase todos os custos.
Supõe-se que o Vale do Silício goste de big data. É a hora de colocar isso em prática.

https://www.valor.com.br/empresas/6112101/titas-de-tecnologia-tentam-despistar-com-jargoes#

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