O cenário mundial mudou. E não foi para melhor. O G-20 passou de diretório econômico do planeta a uma espécie de conselho de guerra durante a cúpula da Turquia, iniciada ontem, com os líderes prometendo combate sem trégua contra o terrorismo após o atentado em Paris.
Declarações de total determinação se sucederam no jantar de ontem dos líderes, com todos dizendo que é preciso uma reação, pois os ataques não foram só contra a França, mas contra o Ocidente, como mostrou matéria assinada por Assis Moreira no Valor Econômico de 16/11, pg A 10
Na prática, os líderes das maiores economias ricas e emergentes reconheceram que o confronto com a grupo extremista Estado Islamico (EI) se transformou de regional num conflito global.
Além de reforçar a luta para desmantelar o financiamento ao terrorismo, os líderes concordaram em tratar de outras ações internacionais em fevereiro, numa conferência da ONU. Uma ideia é criar uma espécie de centro mundial contra o terrorismo.
O presidente francês, François Hollande, cancelou a ida ao G-20 para dirigir a reação na França.
Para o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, trata-se de fase inquietante e problemática do terrorismo global. Só nos últimos dias, o EI assumiu os atentados em Paris (129 mortos), Beirute (43), Bagdá (18), e a bomba que derrubou o avião russo no Egito (224).
O presidente russo, Vladimir Putin, mostrou aos líderes foto de longas filas de tanques do Estado Islamico na Siria, que indicaria a facilidade com que o EI consegue se armar. Putin disse que os terroristas estão vendendo petróleo para obter recursos. “Precisamos acabar com isso.”
No jantar, os líderes se disseram perplexos com o ataque em Paris, apontaram causas – como desigualdade social, discriminação religiosa, a própria crise dos refugiados, que facilita a entrada de terroristas – mas não detalharam medidas efetivas. Disseram ainda que terão de gastar mais em segurança e ampliar troca de informações.
O temor de ataque provocou um dispositivo de segurança sem precedentes no próprio G-20. No balneário de Belek, no sul da Turquia, os principais líderes do planeta, suas equipes, além de jornalistas, são protegidos por 12 mil militares – o dobro dos seis mil da cúpula na Austrália, em 2014.
A questão no G-20 é como grandes países vão conseguir se unir para coordenar uma resposta também militar contra o Estado Islâmico. Entre negociadores habituados a discutir temas econômicos, o que estava na mesa eram medidas para cortar o financiamento ao terrorismo. Mas isso vem sendo falado desde 2001. E o Estado Islamico controla fatias de território na Síria e no Iraque, de onde tira receita estimada em US$ 50 milhões por mês com venda de petróleo.
O presidente Barack Obama foi um dos primeiros a se manifestar. Prometeu redobrar os esforços americanos contra o Estado Islamico e disse que os atentados do grupo em Paris “foram um ataque ao mundo civilizado”. O presidente russo Vladimir Putin também foi enfático na rejeição ao terror.
O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, conclamou a Rússia a concentrar suas operações militares contra o Estado Islamico, e não contra forças da oposição ao presidente sírio, Bashar al-Assad.
Ao mesmo tempo, ele defendeu maior cooperação entre Washington e Moscou na luta contra a organização terrorista. A pressão de fato cresce para o Ocidente rever sua postura em relação a Putin.
No começo da noite Putin e Barack Obama se falaram por 35 minutos, para discutir uma solução para o conflito na Síria, ainda mais agora com o ataque terrorista em Paris que mostra o crescimento do alcance do Estado Islâmico.
Um porta-voz disse que Putin e Obama concordaram com a necessidade de negociações de paz, mediadas pela ONU, entre o regime do ditador sírio, Bashar al-Assad, e opositores, além de um cessar fogo e de uma transição política conduzida pelos sírios.
Ao mesmo tempo em que procuram reforçar a luta contra o terrorismo, os países do G-20 tentam articular uma resposta efetiva para a atual crise dos refugiados, também sem nada prático até agora.
A premiê alemã, Angela Merkel, defendeu-se de críticas contra sua politica de abertura para os refugiados, dizendo que aqueles que fugiram de zonas de guerra não deveriam ser responsabilizados pelos ataques em Paris. “Não devemos misturar as diferentes categorias de povos vindo para a Europa”, acrescentou Jean-Claude Jucker, presidente da Comissão Europeia.