Os líderes das maiores economias do mundo reunidos no G-20 deverão enfatizar, na cúpula desta semana em Osaka (Japão), que continuarão a usar todos os instrumentos, não só cortes de juros, para alcançar melhores taxas de crescimento. E entendem que é preciso mitigar riscos potenciais causados pelas tensões comerciais.
Osaka deve receber 30 mil pessoas para encontro do G-20
O Valor apurou que o “draft” (esboço) da Declaração de Osaka do G-20 destaca que uma recuperação da economia
mundial, mais por volta do fim do ano e em 2020, deverá ser apoiada pela continuação de condições financeiras expansionista e medidas de estímulo adotadas por certos países. No entanto, evidentemente os líderes consideram que isso é pouco para obter um crescimento sustentável.
Na área monetária, os bancos centrais vêm se movimentando com vigor para responder à deterioração do cenário econômico. Além disso, os líderes do G-20 vão enfatizar também a importância de uma política fiscal flexível e “amigável ao crescimento”, entre outras medidas. O Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial vêm pedindo que seja usado tudo o que for possível em favor da expansão da atividade.
Em meio à expectativa em torno do novo encontro entre os presidentes dos EUA, Donald Trump, e da China, Xi Jinping, para uma eventual trégua, o “draft” da declaração diz que os líderes compartilham séria preocupação com a situação atual no comércio mundial e a importância de mitigar esses riscos – sem dizer como fazer isso.
A questão do câmbio voltou ao radar depois que Trump acusou o Banco Central Europeu (BCE) de manipular a taxa de câmbio para beneficiar a zona do euro. Mas, até agora, o plano no G-20 é de repetir o compromisso assumido em março de 2018, quando os países reiteraram que a excessiva volatilidade e os movimentos desordenados nas taxas de câmbio podiam ter implicações adversas para a estabilidade econômica e financeira. E reafirmaram acordo de não realizar desvalorizações competitivas e de não estabelecer metas de taxas de câmbio para fins competitivos.
Segundo fontes, no texto proposto pelo Japão para negociação nos próximos dias pelos “sherpas”, os representantes pessoais dos líderes, o G-20 retoma o compromisso de combate a “práticas protecionistas” – na verdade, mais para atacar a China por conta dos subsídios industriais, vistos como exemplo de concorrência desleal.
Aumenta assim a pressão sobre as políticas da China. O temor com o excesso de capacidade em alguns setores, como o de aço, que podem causar impacto negativo na produção doméstica e no comércio reaparece neste “draft”. Mas esse ponto já causou furor e foi vetado por Pequim na declaração de ministros de comércio, há duas semanas, com apoio da Arabia Saudita.
A grande maioria no G-20 defende mais esforços na cena internacional para reduzir o excesso de capacidade especificamente no setor siderúrgico e reafirmar a necessidade urgente de eliminar medidas de apoio que causam esse excesso. A China sabe que é o alvo. Os outros países querem prorrogar o mandato do Fórum Global sobre Excesso de Capacidade no setor de aço, até que o problema seja resolvido. Mas Pequim resiste.
Os líderes reafirmarão ainda apoio à reforma da Organização Mundial do Comércio (OMC). A questão é até que ponto serão dadas novas orientações políticas para os negociadores avançarem em Genebra. Os EUA são contra muitos pontos, mas sem propor soluções até o momento.
O Japão coloca ênfase também na economia global digital. Vê a negociação de um acordo sobre comércio eletrônico na OMC como vital para evitar uma fragmentação irreversível do mundo digital. O risco de fragmentação dos mercados por questões tecnológicas é forte, sobretudo na questão de proteção de dados. Para o comércio eletrônico funcionar tem que haver uma certa compatibilidade na utilização dos dados. Os japoneses propõem um fluxo livre de dados “com confiança” – que respeite a privacidade.
Segundo fontes, a sensível questão de mudança climática estará na declaração dos líderes, mas sem termos como aquecimento global ou descarbonização das economias, vetadas com frequência pelos EUA. O documento deve se limitar a reconhecer a necessidade de enfrentar desafios globais como as mudanças climáticas, escassez de recursos, poluição do ar e do mar, lixo de plástico no meio marinho, perda de biodiversidade e outras questões ambientais para liderar a transição energética com a melhor ciência disponível.
https://www.valor.com.br/internacional/6320097/g-20-quer-compromisso-com-medidas-pro-crescimento#