O alvo, claro, era Paris, o maior mercado da empresa. A Airbnb, a startup americana que sacudiu o mercado hoteleiro e está influenciando os rumos do turismo, agora é legal na França. A empresa especializada em mediar a locação de imóveis particulares para turistas e homens de negócios foi enquadrada pela prefeitura de Paris e, depois de um acordo com a administração municipal, passou a pagar ontem um imposto sobre cada hóspede que fechar negócio em seu site. Em troca, a companhia – espécie de Uber dos hotéis – foi regularizada e poderá seguir funcionando sem empecilhos.
O acordo foi firmado há cerca de 10 dias, mas já entrou em vigor. Depois de meses de negociações, a empresa passou a reverter ao tesouro da capital francesa a taxa de hospedagem, um imposto que até aqui incidia apenas sobre a rede hoteleira. O valor é baixo – 0,83€ por noite e por hóspede –, mas foi o suficiente para fazer o Executivo municipal ignorar as queixas do setor, que se sentia lesado pela suposta concorrência desleal de Airbnb.
O Airbnb enviou um e-mail aos proprietários de apartamentos interessados em oferecer seus imóveis para aluguéis de curta duração, advertindo para a oportunidade de negócios. “Financie suas férias com Airbnb”, afirmou a mensagem, que propôs aos proprietários que aluguem seus bens enquanto viajam de férias. A empresa lembrou aos usuários que mais de 20 milhões de viajantes são esperados em Paris apenas durante a temporada de outono e inverno europeus, que compreende as festas de Natal e Ano Novo, como mostrou matéria de Andrei Netto, no estadão de 2/10, pg B12.
Com o acordo firmado com a prefeitura, Paris tem ainda mais importância estratégica para a startup da Califórnia. Isso porque a capital francesa é, à frente de Nova York e Los Angeles, a cidade mais procurada por seus clientes em todo o mundo.
Para a administração municipal, por sua vez, a normalização da relação com Airbnb representa uma oportunidade de diálogo com a empresa para regular a oferta de apartamentos para aluguéis. A prefeitura quer limitar o uso de Airbnb a proprietários que alugam ocasionalmente, combatendo a “profissionalização” do setor, com a entrada de pessoas, empresas ou fundos de pensão que adquiram apartamentos apenas para lhes alugar via Airbnb. De acordo com a prefeitura, a atividade prejudica o mercado de aluguéis de longa duração, inflacionando preços e reduzindo a oferta, já limitada, para a população.
Mesmo com as restrições, um total de 50 mil quartos ou apartamentos são oferecidos por Airbnb em Paris, contra 80 mil de toda a rede hoteleira tradicional. A empresa espera que o entendimento sirva de exemplo internacional. Para a companhia, a vantagem é de ter encerrado o litígio sem entrar em longos enfrentamentos jurídicos, como faz a direção de Uber, outra gigante da economia colaborativa, alvo de críticas de sindicatos e de greves de taxistas em todas as grandes capitais em que atua.