O Facebook está implantando o reconhecimento facial na Europa, após ter prometido, seis anos atrás, às agências reguladoras, que abandonaria a tecnologia, valendo-se agora das novas regulamentações de proteção de dados da União Europeia como uma oportunidade de coletar mais informações se os usuários optarem pelo serviço.
Rob Sherman, vice-diretor de privacidade do Facebook, disse que o reconhecimento facial será uma “nova opção para os europeus”, disponível em outros países há muitos anos. A empresa usa a tecnologia para reconhecer pessoas em fotos, permitindo que seus amigos as identifiquem on-line sem seu consentimento explícito e coletando mais dados, como mostrou matéria do Financial Times, assinada por Hannah Kuchler, publicada no Valor de 19/04.
O Facebook desativou o recurso em 2012, dizendo à agência fiscalizadora irlandesa que somente restabeleceria o recurso sob aprovação, e apagando dados que já havia coletado. A empresa disse ter informado a reguladores irlandeses sobre como a tecnologia funciona e como se propõe a pedir o consentimento. Os usuários deverão dizer explicitamente se permitem ou não que o Facebook use o recurso.
O recurso foi recebido com oposição significativa nos EUA, onde um juiz determinou nesta semana que a empresa teria que enfrentar uma ação coletiva por suposta violação da lei estadual de Illinois, por armazenar dados biométricos sem o consentimento dos usuários.
Neste mês, uma coalizão de organizações defensoras da privacidade dos consumidores registrou uma queixa junto à Federal Trade Commission. Ela alega que o Facebook está violando seu acordo de privacidade de 2011 com o órgão regulamentador americano ao escanear fotos para fins de casamento biométrico sem o consentimento da pessoa na imagem ou da pessoa que publicou a foto.
O Facebook disse que o reconhecimento facial ajuda as pessoas a gerenciarem sua identidade on-line e ajuda deficientes visuais a saber quem está nas fotos.
Mas isso também fornece à rede social mais informações sobre as conexões de um usuário. Usando outras tecnologias de inteligência artificial, eles podem dizer onde o usuário está e o que está fazendo.
A rede social começará nesta semana a solicitar aos usuários as permissões necessárias, segundo o Regulamento Geral de Proteção de Dados da União Europeia, antes que ele entre em vigor em 25 de maio.
Os preparativos estavam em andamento antes da revelação sobre os dados vazados para a Cambridge Analytica, uma empresa de análise de dados que trabalhou para a campanha de Donald Trump. Mas o Facebook, a partir de então, implantou mudanças de privacidade voltadas principalmente para restringir o acesso de desenvolvedores aos seus dados.
“Acho que uma das mensagens claras que recebemos nas últimas semanas é que a confiança é realmente importante. Temos muito trabalho a fazer para reconquistar a confiança das pessoas em nosso serviço”, disse Sherman.
O Facebook agora diz que vai implantar as mesmas opções para usuários em todo o mundo, com exceções, como informar aos europeus como. A companhia não disse quando as opções estarão disponíveis a usuários fora da Europa.
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