O Facebook e a indústria editorial são amigos há tempos, mas é uma relação de fachada: às vezes, há união, mas a competição é mais presente. Nos EUA, os dois lados formaram uma trégua incerta ontem, quando a empresa divulgou o Facebook News, sua mais recente incursão em publicações digitais. O produto é uma nova seção do aplicativo móvel da rede social dedicada inteiramente ao conteúdo de notícias, no qual a empresa aposta para trazer usuários de volta ao site regularmente para consumir notícias.
O Facebook News trará matérias de uma série de publicações, incluindo The New York Times, The Wall Street Journal e The Washington Post, além de sites como Buzzfeed. Algumas histórias serão selecionadas por uma equipe de jornalistas profissionais, enquanto outras serão adaptadas aos interesses dos leitores ao longo do tempo usando a tecnologia de aprendizado de máquina do Facebook.
“Sentimos uma responsabilidade porque obviamente há a consciência de que a internet trouxe perturbação ao modelo de negócios do setor de notícias”, disse Mark Zuckerberg, presidente executivo do Facebook, em entrevista. “Criamos uma maneira diferente de fazer isso, que acreditamos ser melhor e mais sustentável”.
O Facebook pagará por uma variedade de conteúdo de dezenas de publicações – incluindo alguns acordos na casa dos milhões de dólares. O esforço foi elogiado. “Mark Zuckerberg parece comprometido em garantir que o jornalismo de alta qualidade tenha um futuro viável e valorizado”, disse Robert Thomson, presidente executivo da News Corp., que controla a Fox, em comunicado. “É absolutamente apropriado que o jornalismo de alta qualidade seja reconhecido e recompensado.”
Entre tapas e beijos
O relacionamento entre o Facebook e as grandes publicações tem sido tenso. Como o Facebook e o Google dominam o mercado de publicidade online, absorvendo até 80% da receita, as empresas jornalísticas veem os gigantes da tecnologia como uma limitação às suas expansões digitais.
Ao longo dos anos, o Facebook cortejou as publicações por meio de diferentes iniciativas de jornalismo, como o a ferramenta de vídeos ao vivo Facebook Live e os Instant Articles – um produto no qual os editores forneciam artigos que apareciam na íntegra na rede social.
Mas essas relações azedaram quando o Facebook mudou sua estratégia, deixando as publicações se sentindo insultadas quando a rede social mudou de planos. Depois de promover fortemente parcerias para projetos de vídeo, por exemplo, o Facebook decidiu não renovar alguns acordos de vídeo com editores, com efeitos catastróficos. A Mic, uma editora digital com o objetivo de atingir aos jovens, foi forçada a colocar-se à venda por uma avaliação abaixo do mercado, depois que seu acordo não foi renovado pelo Facebook.
Zuckerberg admitiu a tensão entre a rede e as empresas e disse que experiências passadas mudaram sua abordagem. “Não será algo passageiro: os acordos são de vários anos”, disse ele. “Elaboramos uma fórmula agora pela qual poderemos pagar de forma sustentável pelo conteúdo.”