Excesso de commodity e de mão de obra atinge economia mundial

Há sobra de quase tudo. A economia global está inundada como nunca de commodities como petróleo, algodão e minério de ferro, mas também de capital e mão de obra – uma abundância que apresenta diversos desafios enquanto os formuladores de políticas lutam para estimular a demanda.

“O que vemos é um ambiente de baixo crescimento, baixa inflação e juros baixos”, diz Megan Greene, economista- chefe da John Hancock Asset Management. Segundo ela, a economia global poderia passar os próximos dez anos tentando “se livrar disso”, como mostrou material do The Wall Street Journal, assinada por Josh Zumbrum, publicada no Valor econômico de 27/04, pg B12.

O atual estado de abundância é frustrante em muitas frentes. O excesso de commodities deprime os preços e alimenta temores de deflação. A riqueza global – estimada pelo Credit Suisse em cerca de US$ 263 trilhões, mais que o dobro dos US$ 117 trilhões de 2000 – representa uma vasta oferta de poupança e capital, ajudando a manter os juros baixos e enfraquecendo a política monetária. E o excedente de trabalhadores deprime os salários.

Enquanto isso, o endividamento público nos Estados Unidos, Japão e Europa limita a capacidade de os governos estimularem o crescimento por meio de gastos públicos. Isso deixa para os bancos centrais a missão de dar às economias a maior liquidez possível, embora as rodadas recentes de afrouxamento monetário não tenham levado essas economias de volta nem para perto das trajetórias de crescimento anteriores.

Exemplos de excesso de oferta são abundantes. Em Cushing, Oklahoma, um dos maiores polos de armazenamento de petróleo dos EUA, o petróleo bruto está praticamente transbordando dos tanques. Na semana passada, os estoques de petróleo bruto dos EUA subiram para 489 milhões de barris, um recorde desde o início dos registros, em 1982.

No mundo, estima-se que cerca de 110 milhões de fardos de algodão acabem parados em fábricas têxteis ou armazéns no fim desta safra, um nível recorde desde 1973, quando os EUA passaram a publicar dados sobre os estoques do produto. Superávits enormes também têm sido vistos em mercados de bens acabados, à medida que a abundância se espalha pela cadeia de suprimentos.

Em fevereiro, os estoques totais de bens duráveis manufaturados nos EUA subiram para US$ 413 bilhões, nível mais alto desde 1992, primeiro ano em a agência federal do Censo publicou os dados. Na China, concessionárias estão com os maiores estoques de veículos em mais de dois anos.

No cerne do problema está uma economia chinesa em desaquecimento combinada a uma demanda fraca em muitos países desenvolvidos. Conforme a China se afasta de sua dependência de indústrias intensivas em commodities como a siderurgia e os têxteis, a demanda por muitos materiais tem desacelerado e, em alguns casos, até se contraído.

As maiores economias do mundo têm continuado a ampliar suas dívidas desde a crise de crédito, segundo cálculos de Greene, da John Hancock. A dívida de governos, empresas e consumidores nos EUA subiu de US$ 17 trilhões em 2008 para US$ 25 trilhões, um salto de 167% do PIB para 181%. Na Europa, a dívida subiu de 180% do PIB para 204%, enquanto na China, as dívidas saltaram de 134% do PIB para 241%, pelas contas de Greene.

Uma nova demanda dos mercados emergentes também pode ajudar a compensar a influência em declínio da China. A Índia apresenta potencial: a demanda por energia e outras commodities do segundo país mais populoso do mundo cresce rapidamente. Mas analistas têm dúvidas sobre se isso será suficiente para preencher o vazio deixado pela China.

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