Europa propõe plano para produzir semicondutores

A Comissão Europeia propôs, nesta terça-feira (8), liberar 43 bilhões de euros (R$ 258,8 bilhões) para a indústria de semicondutores para reduzir sua dependência da Ásia neste setor estratégico que passa por uma severa escassez.

“Propusemos o objetivo de ter 20% do mercado mundial em 2030”, o dobro de hoje, declarou a presidente do Executivo europeu, Ursula von der Leyen. Em um mercado que deve dobrar até 2030, isso significaria quadruplicar a produção de semicondutores na Europa.

A União Europeia, que esteve na vanguarda do desenvolvimento de chips, viu sua participação de mercado cair nas últimas décadas para apenas 9% da produção global.

No Brasil, a falta de chips ameaça a produção de montadoras e afeta, de modo crítico, a indústria de eletrônicos. Em novembro do ano passado, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, convidou o bilionário Elon Musk a criar indústria de semicondutores no país. No entanto, a decisão contrasta com a decisão de liquidar o Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Avançada), único fabricante de semicondutores da América Latina.

Também na Europa a escassez de semicondutores freia a indústria automotiva há três anos e provocou o fechamento forçado de muitas fábricas. As tensões geopolíticas em torno da China, bem como a pandemia, aumentaram a conscientização sobre a necessidade de produzir na Europa esses componentes essenciais importados principalmente de Taiwan e da Coreia.

A ponto de convencer a Comissão a flexibilizar o seu rígido quadro de ajudas estatais e a assumir uma política industrial intervencionista num continente tradicionalmente muito aberto à concorrência global.

“Pela primeira vez, a Europa está mudando as regras da política de concorrência, em particular os auxílios estatais”, explicou Thierry Breton, que lidera a iniciativa da UE.

Esses componentes são essenciais em muitos objetos do cotidiano, como celulares, mas também em centros de armazenamento de dados, no coração da economia digital em expansão.

No ano passado, os semicondutores representaram um mercado global de quase 600 bilhões de euros (R$ 3,6 trilhões), segundo a consultoria Yole Développement.

O projeto, que ainda precisa ser adotado pelos países-membros do bloco e pelo Parlamento Europeu, prevê 11 bilhões de euros (R$ 66,22 bilhões) em subsídios, cerca de metade do orçamento da UE e a outra metade dos Estados-membros, para financiar pesquisas sobre as tecnologias mais inovadoras e para se preparar para a sua industrialização.

Para permitir a instalação de fábricas, Bruxelas vai autorizar ainda 30 bilhões de euros (R$ 180,6 bilhões) em ajudas públicas dos Estados-membros a industriais do setor, incluindo grupos estrangeiros, como a americana Intel, que pretende investir na Europa.

Um fundo de mais de 2 bilhões de euros (R$ 12 bilhões) apoiará startups do setor.

Este financiamento essencialmente público deverá conduzir a um investimento privado ainda maior, espera a Comissão.

O plano europeu rivaliza com o dos Estados Unidos, que também iniciou a repatriação das atividades produtivas para seu território.

Na sexta-feira (4), a Câmara de Representantes aprovou um projeto de lei que prevê US$ 52 bilhões (R$ 274 bilhões) para realocar a fabricação de chips eletrônicos.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/02/ue-propoe-plano-de-43-bi-de-euros-para-produzir-semicondutores.shtml

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