EUA têm a maior inflação em 40 anos

A inflação nos EUA disparou ao longo dos últimos 12 meses para sua taxa mais alta em quatro décadas, reduzindo a renda dos consumidores americanos, corroendo os ganhos dos aumentos salariais e colocando pressão sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) para agir de forma mais agressiva para domar a espiral de alta dos preços. 

O Departamento do Trabalho informou ontem que os preços ao consumidor saltaram 7,5% no mês passado, em comparação com um ano antes, o maior aumento anual desde fevereiro de 1982. A alta dos preços se estendeu por toda a economia, desde alimentos e móveis até aluguéis de apartamentos, passagens aéreas e eletricidade. 

A combinação de escassez de produtos e mão de obra, generosa ajuda federal, taxas de juro ultrabaixas e gastos do consumidor robustos ajudou a empurrar a inflação para cima no último ano. E há poucos sinais de que vá cair logo. 

O dado de inflação provavelmente diminuirá ainda mais as chances de aprovação do plano “Reconstruir Melhor” do presidente Joe Biden. O senador democrata Joe Manchin, que se apõe ao pacote de gastos socioambiental, frequentemente cita a inflação como motivo para reduzir seu valor. 

Os salários também têm subido no ritmo mais rápido dos últimos 20 anos, o que pode pressionar as empresas a aumentarem preços para cobrir custos trabalhistas maiores. Portos e armazéns estão sobrecarregados, e em janeiro centenas de trabalhadores se ausentaram por covid-19 nos portos de Los Angeles e Long Beach, os mais movimentados do país. Como consequência, muitos produtos e peças continuam em falta. 

 “Se por um lado as pressões dos preços em algumas áreas estão diminuindo, a inflação em outras partes da economia” estão acelerando, diz Sarah House, economista do Wells Fargo. “O resultado é que a inflação deve continuar desconfortavelmente alta.” 

A contínua alta dos preços deixou muitos americanos com menos condições de pagar por alimentos, gás, aluguel, creches e outras necessidades. De forma geral, a inflação aparece como o maior fator de risco para a economia e como uma séria ameaça ao presidente Biden e aos democratas neste ano de eleição legislativa. 

O relatório de inflação pressionou as ações, com o índice S&P 500 fechando em baixa de 1,8%, refletindo a leitura dos investidores de que o Fed terá de subir os juros num ritmo mais agressivo para conter a pressão inflacionária. 

No ano passado, aumentos acentuados nos custos de gasolina, alimentos, automóveis e móveis já afetaram o bolso de muitos americanos. Em dezembro, economistas da Wharton School da Universidade da Pensilvânia estimaram que uma família média americana teve de gastar US$ 3.500 a mais do que em 2020 para comprar uma cesta idêntica de produtos e serviços. 

Em teleconferências com investidores, muitas grandes empresas deixaram claro que sua expectativa é de que a escassez de produtos persista até pelo menos o segundo semestre deste ano. Algumas, como a Chipotle e a Levi’s também alertaram que é provável que aumentem seus preços de novo neste ano, depois de fazê-lo em 2021. 

Executivos da Chipotle, assim como os da Starbucks e de outras empresas voltadas para o consumidor, dizem que até agora seus clientes não parecem incomodados com os preços mais altos. 

A Levi Strauss & Co. elevou os preços no ano passado em cerca de 7% por causa do aumento dos custos, incluindo mão de obra, e planeja fazê-lo novamente neste ano. Mesmo assim, a empresa com sede em São Francisco elevou suas previsões de vendas para 2022. “No momento, todos os sinais que estamos vendo são positivos”, disse o CEO Chip Bergh a analistas. 

Uma pesquisa da Conference Board com 133 CEOs de grandes empresas americanas mostra que quase 3 em cada 4 entrevistados avaliam que a inflação continuará a subir, com a maioria citando os problemas nas cadeias de suprimentos e uma grande minoria apontando a necessidade de subir os preços para cobrir os custos dos aumentos salariais. Cerca de 72% deles disseram que esperam repassar parte dos custos mais altos com mão de obra e transportes aos clientes nos próximos 12 meses. 

Também as pequenas empresas sentem a pressão de custos e planejam aumentar seus preços nos próximos três meses. Em dezembro, cerca de 47% delas disseram que previam reajustes no curto prazo, segundo a National Federation of Independent Business, uma associação representativa do setor. Esse número está perto de seu maior nível desde o início da série histórica em 1986. 

Reforçando os dados alarmantes do relatório sobre a inflação, a Adobe informou ontem que os preços na internet aumentaram 2,7% ao ano em janeiro. Em relação a dezembro, o salto nos preços foi de 1,1%. Segundo a Adobe, este foi o 20o mês consecutivo de aumentos anuais de preços de bens de consumo vendidos online. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2022/02/11/eua-tem-maior-inflacao-em-40-anos-e-pressao-continua.ghtml

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