O governo do presidente dos EUA, Donald Trump, colocou oito empresas chinesas de tecnologia em uma lista negra ontem, acusadas de envolvimento em violações de direitos humanos contra minorias muçulmanas na província de Xinjiang, extremo oeste da China.
Entre empresas acusadas estão duas empresas de vigilância por vídeo – a Hangzhou Hikvision Digital Technology e a Zhejiang Dahua Technology – que, segundo algumas fontes, controlam até um terço do mercado global de videomonitoramento e têm câmeras espalhadas por todo o mundo.
A medida foi anunciada após o fechamento dos mercados nos EUA e no mesmo dia em que representantes americanos e chineses deram início aos preparativos para as negociações de alto nível previstas para esta quinta-feira, em Washington. As entidades incluídas na lista negra estão proibidas de fazer negócios com empresas americanas sem uma autorização do governo americano.
“Especificamente, essas entidades foram implicadas em violações de direitos humanos e abusos na implementação da campanha da China de repressão, detenções arbitrárias em massa e vigilância de alta tecnologia contra uigures, cazaques e outros membros de grupos minoritários muçulmanos” em Xinjiang, segundo nota do Departamento de Comércio dos EUA.
Em Xinjiang, cerca de um milhão de muçulmanos uigures foram colocados em campos de detenção em massa, o que provocou críticas por todo o mundo.
A notícia foi divulgada no momento em que o presidente Trump participava da assinatura de um acordo comercial parcial com o Japão e previa uma grande semana de negociações com a China.
“Acreditamos que há uma boa chance de podermos fazer algo muito substancial”, disse Trump. “Acho que eles estão chegando para fechar um acordo, vamos ver se um acordo pode ou não ser feito.”
Além da Hikvision e da Dahua, foram incluídas na lista negra as empresas de inteligência artificial iFlytek, Megvii Technology, Sense Time e Yitu Technologies.
Também estão na lista a Xiamen Meiya Pico Information – que se denomina “especialista em ciência forense digital e segurança cibernética na China”, segundo seu site – e a Yixin Science and Technology, uma fornecedora de equipamentos de micro e nano fabricação com sede em Xangai.
A inclusão dessas empresas na lista negra era discutida faz tempo e os conselheiros para a segurança nacional pressionavam Trump há meses para oficializar a medida. Mas o momento escolhido é altamente provocador, poucos dias antes da chegada prevista do vice-premiê da China, Liu He, a Washington para as negociações comerciais de alto nível que serão acompanhadas pelos mercados financeiros de todo o mundo.
A Casa Branca tinha preparado em maio o pacote de sanções contra empresas de tecnologia de vigilância acusadas de violações de direitos humanos, mas decidiu segurá-lo por causa das negociações comerciais em andamento.
O governo Trump voltou a considerar as sanções em junho e planejava anunciá-las, junto com um discurso sobre os direitos humanos do vice-presidente Mike Pence, no aniversário do massacre da Praça da Paz Celestial. O discurso foi adiado indefinidamente – a pedido de Pequim – para que Trump pudesse garantir um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G-20 em Osaka.
A chamada “lista de entidades” do Departamento de Comércio dos EUA também incluirá o Departamento de Segurança Pública da região de Xinjiang e 18 departamentos de segurança pública municipais e locais, bem como a academia de polícia da província.