EUA: Mesmo sem acordo, Câmara aprova pacote de auxílio de US$ 2,2 trilhões

Câmara dos Representantes dos EUA aprovou um projeto de lei que libera US$ 2,2 trilhões contra o coronavírus nesta quinta-feira, enquanto as negociações bipartidárias com o governo Trump se arrastam, com os democratas avançando em sua legislação na ausência de um acordo com os republicanos. 

A votação havia sido adiada anteriormente para dar à presidente da Câmara, a democrata Nancy Pelosi, e ao secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, mais tempo para chegar a um acordo sobre um pacote de ajuda. Mas essas conversas ainda não renderam um acordo bipartidário. 

“Ainda estamos distantes”, disse Pelosi na quinta-feira. “Esperançosamente, podemos encontrar nosso terreno comum sobre isso e fazê-lo em breve.” 

Pelosi e Mnuchin se falaram várias vezes nesta quinta-feira. Pelosi disse nesta noite que iria revisar os documentos de Mnuchin, mas nenhum acordo seria provável na noite de hoje. 

A legislação foi aprovada por 214 votos a 207, com 18 democratas juntando-se aos republicanos na oposição ao projeto. 

O projeto democrata daria dinheiro aos governos estaduais e locais, enviaria outra rodada de cheques de estímulo a muitos americanos, restabeleceria um suplemento semanal de US$ 600 para benefícios de desemprego e daria assistência a companhias aéreas, restaurantes e locais de espetáculos, entre outras medidas. Os republicanos criticaram o projeto de lei, sem lhe dar chance de aprovação no Senado, controlado pelo Partido Republicano. 

Depois que Pelosi apresentou seu plano de US$ 2,2 trilhões esta semana, Mnuchin fez uma contraoferta de US$ 1,6 trilhão, um aumento sobre o US$ 1,5 trilhão que o governo havia sinalizado anteriormente que poderia apoiar. A nova oferta de Mnuchin incluiu US$ 250 bilhões em financiamento para governos estaduais e locais, o que tem sido um ponto de discordância importante nas negociações. Os republicanos já haviam oferecido US$ 150 bilhões para governos estaduais e locais. 

O pacote de US$ 2,2 trilhões dos democratas representa uma redução em relação ao projeto de lei de US$ 3,5 trilhões que os democratas da Câmara aprovaram em maio. Em vez dos US$ 915 bilhões para os governos estaduais e locais que os democratas buscavam originalmente, seu novo projeto agora busca US$ 436 bilhões para Estados e municípios. 

Não está claro, contudo, se os dois lados podem fechar acordo sobre a diferença. A secretária de imprensa da Casa Branca, Kayleigh McEnany, disse na quinta-feira que Pelosi deveria aceitar a nova oferta do governo. 

“É uma boa proposta, mas ela não está interessada”, disse Kayleigh sobre Pelosi. Ela não descartou uma nova revisão da posição da Casa Branca. “No momento, temos o número de US$ 1,6 trilhão, e avisarei se esse número aumentar”, disse ela. 

Tanto a Casa Branca quanto os democratas da Câmara estão renovando suas tentativas de chegar a um acordo, já que a ausência de outro projeto de estímulo está começando a pesar visivelmente na economia. 

Dados do governo mostraram que a renda das famílias americanas caiu drasticamente em agosto, devido a uma queda nos benefícios de desemprego. As dispensas de trabalhadores também permaneceram altas. Economistas consultados pelo The Wall Street Journal esperam que a taxa de desemprego de setembro, com divulgação prevista para sexta-feira, melhore para 8,2%, de 8,4% no mês anterior. 

Antes da votação de quinta-feira, alguns democratas de centro pressionaram a Câmara para aprovar um projeto de lei para demonstrar ação nas semanas antes da eleição. Alguns legisladores democratas disseram que se uniriam aos republicanos em uma moção processual para forçar uma votação no plenário sobre a ajuda às pequenas empresas se os líderes da Câmara não conseguissem outra votação. 

Ao chegar a um acordo, os democratas da Câmara e a administração Trump também enfrentam outro obstáculo: os republicanos do Senado se opõem a novamente distribuir dinheiro para um grande pacote de ajuda. Muitos republicanos no Senado veem a economia se recuperando sem injeções adicionais de ajuda e estão preocupados com novos gastos deficitários. 

Depois que um plano de US$ 1 trilhão dos líderes do Partido Republicano não atraiu amplo apoio em seu partido, no mês passado, os republicanos do Senado elaboraram uma proposta “magra” para tentar unificar suas fileiras. Esse projeto, que exigia US$ 300 bilhões em novos fundos e reaproveitamento de US$ 350 bilhões em outros fundos, fracassou no Senado quando os democratas o bloquearam. Os republicanos do Senado disseram que podem não ser capazes de apoiar um pacote tão caro quanto o que Mnuchin ofereceu. 

À medida que as eleições se aproximam, o ceticismo cresceu no Capitólio de que um acordo é possível nesta fase. O tempo para fechar um acordo está acabando: a Câmara deve entrar em recesso de um mês no fim desta semana, embora Pelosi tenha dito que manteria a Câmara em sessão e continuaria trabalhando com a administração. 

Qualquer acordo teria que ser aprovado pelo Senado, que atualmente está focado em preencher uma vaga na Suprema Corte e planeja entrar em recesso em grande parte de outubro. 

Os legisladores democratas também estão olhando para a eleição. O ex-vice- presidente Joe Biden, o candidato democrata, está em alta nas pesquisas nacionais, e alguns prognósticos favorecem os democratas para vencer o Senado. Alguns legisladores democratas veem o potencial maior para um pacote de ajuda após a posse. 

“Estamos nos preparando para o que vem a seguir, mas precisamos de coisas agora”, disse Pelosi. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/10/01/eua-mesmo-sem-acordo-cmara-aprova-pacote-de-auxlio-de-us-22-trilhes.ghtml

Comentários estão desabilitados para essa publicação