EUA e China devem ter reunião sobre acordo comercial nos próximos dias

Negociadores dos Estados Unidos e da China pretendem se reunir por videoconferência nos próximos dias para discutir a implementação da fase 1 do acordo comercial firmado em janeiro e as ações da Casa Branca contra empresas chinesas, segundo representantes dos dois países. 

As conversas, adiadas na semana passada, foram colocadas em dúvida ontem, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmou que cancelou as negociações com a China por causa da forma como Pequim lidou com a pandemia de covid-19. “Eu não quero falar com a China agora”, disse ele. 

No entanto, assessores de Trump esclareceram posteriormente que ele não estava falando especificamente sobre o acordo comercial, mas de maneira geral. O mandatário americano e o presidente da China, Xi Jinping, não se falam por telefone desde o fim de março. 

Pequim estava se preparando para uma reunião no último sábado entre o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, e o vice-primeiro-ministro chinês, Liu He, sobre a situação do acordo comercial assinado em janeiro. Os americanos, porém, imaginavam que a conversa ocorreria alguns dias depois. 

Apesar da decisão de adiar a reunião, o planejamento continua. Os dois países, porém, ainda não escolheram uma data específica para que o encontro ocorra. 

Não está claro por que uma nova data não foi marcada, mas um atraso dá à China mais tempo para comprar produtos dos EUA e mostrar que o país está disposto a cumprir as ambiciosas metas acertadas no acordo comercial. 

“Não há conversas programadas neste momento”, disse ontem o chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, a bordo do Air Force One. “O embaixador Lighthizer continua a ter discussões com seus colegas chineses sobre as compras e o cumprimento do acordo.” 

Meadows explicou que Trump não estava se referindo às negociações comerciais quando descartou voltar a dialogar com a China durante um comício de campanha ontem, no Arizona. 

“Não acho que ele disse que estava desistindo do acordo comercial”, afirmou Meadows. “Ele disse que estava revisando.” 

Ainda assim, mesmo entre os principais assessores de Trump, há dúvidas se o acordo será mantido até a eleição presidencial dos EUA, em 3 de novembro. 

Trump pode avaliar que é de seu interesse político encerrar o acordo, como uma forma de mostrar que é firme ao lidar com a China. A agressividade em relação a Pequim se tornou um dos pilares de sua campanha à reeleição. 

Questionado ontem sobre o futuro do acordo, Trump respondeu: “Vamos ver o que acontece.” 

Especialistas em comércio que acompanham de perto as negociações dizem que as discussões sobre a implementação da fase 1 do acordo comercial sempre foram mais simbólicas do que substanciais. 

As conversas seriam uma forma de mostrar que, ao menos em um aspecto, os dois países seguem se entendendo. Caso Trump decida deixá-lo, a guerra comercial voltará à pauta das disputas entre as duas maiores economias do mundo. 

Para Pequim, as negociações são um palco para expor as preocupações do país quanto às ações dos EUA contra empresas chinesas de tecnologia. Nas últimas semanas, Trump ameaçou banir os aplicativos TikTok, da ByteDance, e WeChat, da Tencent, do território americano. 

Os EUA também tentam impedir que a Huawei tenha acesso a semicondutores e chips avançados para produzir smartphones e equipamentos para redes de telecomunicação 5G. 

O vice-premiê da China planeja discutir essas questões com Lighthizer, citando a linguagem do acordo da fase 1, que pede que os dois lados “resolvam as preocupações comerciais e de investimento existentes e futuras da maneira mais construtiva e expedita possível”, segundo representantes do governo de Pequim. 

Ele também deve argumentar que a China está trabalhando para cumprir as metas de compra previstas no acordo. 

Nos últimos meses, a China intensificou as compras de milho, soja e outros produtos agrícolas nos EUA. No entanto, o ritmo das aquisições, medido em dólares, está aquém do necessário para que as metas sejam atingidas. Isso, em parte, reflete a queda dos preços das commodities em meio à pandemia. 

Os negociadores chineses devem buscar ajustes no acordo para que ele leve em consideração as flutuações nos preços dos produtos no mercado internacional. 

Até junho, a China havia comprado US$ 33 bilhões em produtos incluídos no acordo, apenas 47% da meta prevista para o ano, de acordo com Chad Bown, pesquisador do Instituto Peterson de Economia Internacional. 

Para os EUA, a reunião é uma forma de pressionar a China a acelerar o ritmo das compras. 

No início desta semana, Trump disse à Fox News que a China parecia estar mais disposta a respeitar o acordo comercial porque “eles sabem que estou muito zangado com eles”. 

Na ocasião, o presidente americano afirmou que os chineses fizeram os maiores pedidos de soja e milho da história, uma declaração que especialistas consideraram exagerada. 

Ken Morrison, responsável por uma publicação sobre commodities, afirmou que as compras chinesas de produtos agrícolas estão aumentando em volume. O problema é que o acordo define as metas em dólares. 

Por esse padrão, segundo Morrison, as compras chinesas estão muito distantes de qualquer recorde, como o exaltado por Trump. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2020/08/19/eua-e-china-devem-ter-reunio-sobre-acordo-comercial-nos-prximos-dias.ghtml

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