EUA derrubam compras de máquinas de chips da China

As exportações de equipamentos para a fabricação de semicondutores dos EUA e Japão para a China caíram pela primeira vez em três anos em 2022, depois que Washington intensificou suas restrições comerciais à tecnologia de produção de chips avançados. 

No trimestre outubro-dezembro, as exportações japonesas de equipamentos para a China tiveram uma queda de 16% ao ano em valor, enquanto no caso dos EUA a queda foi de 50% e no da Holanda, de 44%, segundo dados comerciais. Isso aconteceu mesmo com as exportações do Japão e dos EUA para o resto do mundo crescendo 26% e 10%, respectivamente. 

Os três países abrigam os principais fornecedores de equipamentos para a produção de chips: Applied Materials, ASML e Tokyo Electron. Com o Japão e a Holanda considerando a possibilidade de impor suas próprias restrições, há o risco de uma ruptura maior sobre a cadeia de semicondutores. 

Em 2022 as importações da China de equipamentos para a fabricação de semicondutores caíram 15% para US$ 34,7 bilhões, segundo a mídia chinesa – o primeiro declínio em três anos. A tendência de queda continuou em 2023, com as importações totais em janeiro e fevereiro encolhendo 21% em relação ao mesmo período do ano passado, enquanto as importações de semicondutores caíram 25%. 

Uma queda na produção chinesa e dos investimentos durante os “lockdowns” da covid-19, além de uma desaceleração do mercado de semicondutores no segundo semestre de 2022, provavelmente contribuíram para a queda. 

As restrições impostas pelos EUA em outubro às exportações de equipamentos e softwares para a produção de chips avançados também tiveram seu papel. 

A Lam Research, fabricante americana de equipamentos com forte presença em áreas como a de ferramentas de entalhe, estima que as restrições reduzirão sua receita em algo entre US$ 2 bilhões e US$ 2,5 bilhões em 2023 – cerca de um décimo do total de 2022. 

A Tokyo Electron, que controla quase 90% do mercado de equipamentos de revestimento e desenvolvimento de chips, gerou 26% de suas vendas de equipamentos para a produção de semicondutores na China no ano fiscal de 2021. 

“Se os equipamentos dos EUA não chegarem aos nossos clientes chineses, eles não poderão produzir, e desse modo nossos equipamentos também não chegarão lá”, disse Hiroshi Kawamoto, vice-presidente da Tokyo Electron.

Washington conclamou o Japão e a Holanda a acompanhar os EUA para fortalecer as proteções em torno da tecnologia de produção de chips avançados. Os dois países estão trabalhando em medidas de restrição às exportações. 

A Intel chamou os mais recentes controles à exportação dos EUA de os mais complicados até agora. As empresas têm dificuldades para avaliar o impacto. 

Os processadores gráficos da Nvidia – componentes essenciais na Inteligência Artificial – entram nas restrições de Washington, e a companhia de chips americana está exportando modelos alternativos, inferiores, para evitar conflito com a proibição. Grupos do setor temem que os controles possam desencorajar as vendas de produtos fora das restrições americanas. 

A tecnologia que não é de ponta continua fácil de comprar e vender. A demanda por semicondutores para aplicações em veículos elétricos está aquecida e grandes fabricantes japoneses de equipamentos continuam considerando a China um cliente importante. 

Fornecedores de pastilhas de silício como a Sumco continuam relativamente incólumes. Se a China se mexer para produzir mais chips em casa, ela “poderá acabar comprando mais” pastilhas, disse o presidente do conselho de administração, Mayuki Hashimoto. 

Mesmo assim, os riscos geopolíticos são grandes para o setor como um todo. Os países estão concedendo subsídios para levar a produção de semicondutores para seus territórios, um fator estrutural que prejudicará ainda mais as exportações para a China. 

Analistas afirmam que Pequim está sob pressão de outros aspectos das restrições dos EUA, que também bloqueiam as exportações de softwares de design. “A China está uma década atrasada no desenvolvimento de chips avançados”, disse uma fonte. 

As restrições ao trabalho de engenheiros americanos em fábricas chinesas também são um “duro golpe”, segundo disse Minoru Nogimori do Japan Research Institute. “Será quase impossível a eles alcançarem a tecnologia dos EUA.”

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/03/29/eua-derrubam-compras-de-maquinas-de-chips-da-china.ghtml

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