EUA apuram atuação eleitoral do Facebook

Congressistas dos EUA estão intensificando a pressão sobre o Facebook à medida que cresce a preocupação com o papel da rede de mídia social na interferência da Rússia nas eleições presidenciais americanas de 2016.
O Facebook informou ontem que compartilhou novas descobertas sobre vendas de anúncios com Robert Mueller, que chefia a investigação. “Estamos fornecendo informações para o consultor especial, incluindo sobre anúncios e informações de conta relacionadas”, disse o Facebook.
Adam Schiff, o mais graduado democrata na Comissão de Inteligência da Câmara, disse que a comissão tem preocupações pendentes com as transações do Facebook. “Estamos solicitando muito mais informações do Facebook… há muitas perguntas sem resposta”, disse Schiff à ABC News.
Desde a revelação de que contas russas “não autênticas” compraram anúncios no valor de pelo menos US$ 100 mil no site, o Facebook encontra-se sob escrutínio como parte da investigação do consultor especial Mueller de uma possível comunicação entre Moscou e membros da campanha do presidente Donald Trump, como mostrou matéria do Financial Times, assinada por Courtney Weaver e Leslie Hook, publicada no Valor de 18/09.
Em Washington, as revelações fizeram soar alarmes, com alguns congressistas questionando por que o Facebook só divulgou dados sobre as vendas de anúncios num estágio tão tardio – quase um ano após as eleições – e se outras grandes empresas de tecnologia, como Twitter e Google, fizeram algo semelhante.
“Há questões sobre qual processo legal devemos usar para obter essa informação do Facebook. Mas, francamente, estou preocupado por ter levado tanto tempo para ser informado de que os russos pagaram pelo menos US$ 100 mil por anúncios voltados para tentar influenciar o nosso processo eleitoral”, disse Schiff.
Ele sugeriu que o Facebook está cooperando com o consultor especial, o que ele não acredita que entrará em conflito com as apurações em separado do Congresso que estão sendo conduzidas por ele e outros investigadores.
Ele disse que sua comissão também precisa examinar se outros grandes grupos de tecnologia foram usados em atividades de interferência eleitoral.
O novo foco no Facebook ocorre quando o Congresso aumenta as suas investigações sobre uma potencial cooperação entre membros da campanha de Trump e autoridades russas durante as eleições do ano passado.
Dianne Feinstein, líder democrata na Comissão Judiciária do Senado, disse à TV CNN ontem que membros de sua comissão passaram cinco horas questionando Donald Trump Jr., o filho mais velho do presidente, sobre uma reunião de 2016 com uma advogada russa que, acredita-se, estava disposto a compartilhar informações comprometedoras sobre Hillary Clinton, a candidata presidencial democrata. Trump Jr. disse que não recebeu nenhuma informação comprometedora dessa advogada e insiste que não fez nada de errado.
Feinstein disse que Trump Jr. vai depor publicamente ante a comissão nos próximos meses.
Fundada há mais de uma década como uma rede social para estudantes universitários, o Facebook tem lutado nos últimos anos para lidar com a sua crescente influência política – uma questão que se tornou cada vez mais premente devido ao temor crescente com o “big data” e privacidade.
O Facebook descreveu alguns dos anúncios comprados por essas contas russas, em termos gerais, dizendo, por exemplo, que muitos deles “pareciam se concentrar em amplificar mensagens de divisão social e política”. No entanto, a empresa não divulgou publicamente os detalhes do conteúdo desses anúncios. Disse que não continham mensagens específicas sobre eleições nem sobre candidatos presidenciais.
O Facebook tornou-se particularmente popular para anúncios e campanhas políticas devido à sua capacidade de segmentar regiões e mostrar mensagens personalizadas para diferentes grupos demográficos.
A plataforma vem insistindo há muito tempo que seus algoritmos são neutros com relação aos anunciantes e todo o conteúdo que o site hospeda, desde que esse conteúdo cumpra certas diretrizes de aceitação, como não ser pornográfico e não promover o terrorismo.
No entanto, na semana passada uma investigação da Pro Publica revelou que os algoritmos do Facebook permitem que anunciantes usem critérios racistas para chegar aos consumidores. Por meio de sua plataforma “self-service” de compra de anúncios, os anunciantes podiam se direcionar a usuários que expressaram interesse em tópicos como “ódio aos judeus” ou “como queimar judeus”. O Facebook removeu essas categorias após ser contatado sobre isso pelos jornalistas.

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