Esquenta guerra dos jornais contra bloqueio de anúncios

A confusão aumentou. Em uma nova frente na luta para bloquear anúncios, mais de uma dúzia das maiores companhias de jornais dos Estados Unidos reagiram a uma startup de tecnologia que, argumentam essas empresas, tenta lucrar ilegalmente com seu conteúdo.

O Brave, um navegador de web lançado por Brendan Eich, cofundador da Mozilla, criadora do programa Firefox, promete aos usuários de internet uma experiência melhor ao eliminar publicidade intrusiva. Para as editoras de jornais, acena com a possibilidade de canalizar doações dos leitores e receitas geradas por novos anúncios que o Brave insere em seus sites, como mostrou material do Financial Times, assinada por Shannon Bond e Robert Cookson, publicada no Valor de 11/04.

As empresas jornalísticas veem esse modelo de negócio sob uma luz diferente. Na semana passada, as proprietárias de 1,2 mil jornais – incluindo “The New York Times”, “The Washington Post”, “USA Today” e “The Wall Street Journal” – contestaram a atividade da Brave. Em uma carta, exigiram que a companhia “cesse e desista” de praticar o que qualificam de modelo de negócios “flagrantemente ilegal”.

“O plano de usar nosso conteúdo para vender sua própria publicidade é idêntico a um plano para roubar nosso conteúdo e publicá-lo em seu próprio site”, escreveram as empresas. O Brave disparou de volta, descrevendo as acusações como “afirmações falsas”, e argumentando que seu software “é a solução, e não um problema, para usuários e empresas”.

O conflito entre as empresas de jornais, que dependem das receitas de publicidade, e as companhias de tecnologia que permitem aos leitores eliminar os anúncios digitais está se intensificando.

As empresas jornalísticas temem que o Brave e outros bloqueadores de anúncios coloquem em risco suas receitas, em um momento quando muitos de leitores estão recebendo suas notícias por intermédio de plataformas como o Facebook, em vez lê-las nos próprios jornais.

“Há um conjunto contínuo de desafios para os editores manterem o controle de seus negócios”, diz Brian Kane, cofundador e diretor de operações da Sourcepoint, uma empresa que ajuda as companhias jornalísticas a enfrentar bloqueadores de anúncios.

O Brave está se juntando a um mercado lotado de bloqueadores de anúncios, com um número cada vez maior de empresas que querem se aproveitar das preocupações crescentes sobre privacidade, segurança e vírus de computador. Os usuários também estão preocupados em como anúncios “pesados” estão prolongando o tempo de exibição das páginas na internet, ao mesmo tempo em que consomem seus planos de dados.

Mais de 200 milhões de pessoas no mundo utilizam softwares de bloqueio de anúncios, o dobro de dois anos atrás, de acordo com estimativas da PageFair, um serviço antibloqueio, e da Adobe, companhia desenvolvedora da software.

Quase todos os navegadores de web mais amplamente utilizados, como o Google Chrome; o Safari, da Apple; e o Firefox, permitem que os usuários bloqueiem anúncios.

O Brave vai além dos demais. A empresa pretende dar aos leitores várias opções: bloquear anúncios, doar [dinheiro] às empresas jornalísticas ou receber pagamentos em bitcoins para ver anúncios alternativos, intermediados pelo Brave. A companhia diz que vai dividir as receitas publicitárias com os donos de jornais. Mas as empresas que assinaram a carta nesta semana argumentam que isso viola seus direitos autorais e ameaçam pedir indenizações de até US$ 150 mil por artigo que o Brave exibir com seus próprios anúncios. O Brave argumenta que os navegadores de web não republicam conteúdo.

“Os navegadores não se limitam a reproduzir pixels originados dos sites das empresas jornalísticas. Em vez disso, são agentes do usuário final que fazem a intermediação e recombinam todas as peças de conteúdo, inclusive anúncios de terceiros e notícias”, disse a empresa. “Os navegadores têm liberdade para ignorar, reorganizar, recombinar e valer-se de outras formas de mesclagem de qualquer conteúdo proveniente de qualquer fonte”.

A Eyeo, empresa por trás do Adblock Plus, o software de bloqueio de anúncios mais utilizado, vem há anos recebendo pagamentos de empresas como o Google e a Microsoft para permitir que alguns dos anúncios dessas empresas atravessem seus filtros. Quem critica essa forma de atuação compara esse esquema de “anúncios aceitáveis” a um tipo de extorsão.

Em fevereiro, Randall Rothenberg, presidente do Interactive Advertising Bureau, uma organização do mercado de publicidade digital, descreveu as empresas bloqueadoras de anúncios como “um covil imoral, antiético e desonesto de aspirantes a nerds”.

As operadoras de redes móveis também vislumbraram aí uma oportunidade. A Digicel, que é focada no Caribe e pertence a Denis O’Brien, o homem mais rico da Irlanda, começou a bloquear anúncios em sua rede na Jamaica em setembro. A empresa trabalha com a Shine, uma startup israelense cujo software impede as empresas, entre elas o Google, de exibir anúncios em navegadores e aplicativos móveis.

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