Mario E. René Schweriner
Minestrone: sopa originária da Itália**, que junta uma grande variedade de legumes, com carne e macarrão ou arroz.
- ** (Também país da pizza…)
A Competição
O cenário montado, sempre uma bela cozinha. Nela encontram-se advogados, o presidente da OAB, o pRÉUsidente da Câmara, Eduardo Cunha, alguns políticos, os onze ministros do Supremo Tribunal Federal, os do TSE e mais alguns ministros do governo Dilma especialmente convidados. A proposta desse reality show especial é a de ensinarem a preparar um substancioso minestrone, cuja receita compartilharão com o distinto público.
Um dos ministros do Supremo, o mais loquaz, sugere que o nome da sopa seja “Ministrone”, em homenagem ao grande número de ministros presentes.
O primeiro bloco do show
Principia com um breve histórico para rememorar o último ano-e-meio e melhor poder compreender o momento presente.
Os atores rememoram o 2o Semestre de 2014, ano da última eleição presidencial. Em agosto, falece em um desastre aéreo o promissor candidato Eduardo Campos, presidente do PSB e a ex-senadora Marina Silva, sua vice na chapa, é guindada a concorrer à Presidência.
A comoção pela morte trágica de Eduardo acrescida à projeção de Marina resulta numa equação explosiva: a vertiginosa ascensão de Marina nas pesquisas de intenção de voto, superando os então favoritos Aécio Neves e Dilma Rousseff.
Reuniões de emergência são convocadas pelo staff de Dilma, que é convencida por João Santana, seu homem de marketing a ter-de-desconstruir Marina, que em caso contrário poderia mesmo vencer a eleição.
Filmetes foram produzidos e inseridos no horário eleitoral demostrando o “risco-Marina”: ela estava mancomunada com banqueiros, verdadeiros sanguessugas que não teriam escrúpulos em fazer sumir a comidinha do prato dos pobres. Os programas sociais seriam cortados, aí incluindo o mítico “Minha Casa, Minha Vida” e, vejam só, o Bolsa Família.
A malvada-Marina.
O fato é que o resultado da campanha amedrontadora surtiu efeito: Marina despencou, e não deu mais as caras nas intenções positivas de voto.
De agosto a outubro, sobraram frente-a-frente Aécio e Dilma, esta garantindo “céu de brigadeiro” para o Brasil em 2015. Não haveria aumento de impostos, nem de tarifas de energia e no preço dos combustíveis. Promessas de inflação controlada e nada de desemprego.
Parecia até nome de filme: “Tudo bem no ano que vem”.
Dilma vence Aécio no 2º turno, e se prepara para assumir seu segundo mandato.
Os ministros presentes sorriem saudosos.
E assim, modorrentamente, termina o primeiro bloco do programa.
Entra um comercial no ar.
É um anúncio de pizza: a própria piada pronta.
Não que haja segundas intenções.
Vai começar o segundo bloco.
Os ministros comentam entre si que antes mesmo de sua posse para o segundo mandato, Dilma convidara para Ministro da Fazenda o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, que polidamente recusa a honrosa indicação, mas recomenda um super-executivo do mesmo Bradesco, Joaquim Levy.
Mal Dilma assume (outra piada pronta…) seu segundo mandato, ela age exatamente na direção contrária ao vendido na campanha. Para começar, aumenta o preço dos combustíveis e da energia,
Terá sido propaganda enganosa?
Está aí o primeiro componente da deliciosa sopa: uma xícara de propaganda enganosa.
Joaquim Levy, examinando as contas públicas, não vê outra saída que não um robusto ajuste fiscal, para evitar a sangria de mais dinheiro dos cofres públicos e tentar equilibrar o roto orçamento.
São muitas as reuniões de Levy com a equipe econômica. Debruçam-se nos números e, vejam só, do lodaçal financeiro, emergem, qual Vênus de Botticelli, as “pedaladas fiscais”, que afrontam a “Lei de Responsabilidade Fiscal”, promulgada em 2000.
Não de milhões – dezenas ou mesmo centenas – mas são bilhões. Dezenas, por ora. De bilhões.
E os advogados presentes arremessam no caldeirão o componente número 2: grossas fatias de pedaladas fiscais.
A situação caótica das contas públicas provoca, direta ou indiretamente, desemprego e inflação.
Desemprego + inflação + … recessão
O ajuste fiscal fica relegado a uma daquelas “promessas-de-ano-novo de tanta gente, como as de fazer regime, praticar exercício e deixar de azucrinar a sogra. A proverbial inabilidade de Dilma em negociar com o Congresso, acrescida de picuinhas entre ela e Eduardo Cunha, Presidente da Câmara, provocam uma grande pasmaceira na vida econômica do país, travando investimentos e consumo.
Desagradando a gregos e troianos, ou coxinhas e mortadelas (afinal, é uma refeição, não é? …)
Cada um dos presentes despeja na panela o terceiro ingrediente: pitadas de inépcia presidencial.
Junto ao quarto, em doses generosas: colheradas de inflação, desemprego e recessão.
Não bastasse tão “promissor” cenário, o PT, partido de Dilma, é protagonista do maior escândalo de corrupção da História do Brasil, quando não de proporções planetárias. Corrupção que engolfou a Petrobrás e o Governo. Talvez até a figura do mítico ex-presidente Lula.
A Operação Lava-Jato, dirigida pela Polícia Federal e pelo juiz Sérgio Moro, desbarata um verdadeiro assalto ao erário: são as grandes construtoras, como corrompedoras, e dirigentes de estatais, como corrompidos.
O PT é a um só tempo maestro e orquestra.
Cubos de Corrupção, com e sem gordura, é o quinto e mais substancioso dos componentes do Ministrone.
Temperada pelo sexto e último: uma colher de sopa de delação, da renomada marca Delcídio.
Aumenta-se o fogo, e quando começar a ferver, deixar cozinhar em fogo brando por mais dez minutos.
O Ministrone está pronto, e a receita pode ser dividida com a distinta audiência. Contempla uma xícara de propaganda enganosa, fatias de pedaladas fiscais, pitadas de inépcia presidencial, colheradas de inflação, cubos de corrupção e uma colher das de sopa de delação.
Fim do segundo bloco.
Entra um novo comercial, agora de bicicletas…
Empreguei a metáfora do minestrone para representar como a população encara o impeachment: como um “grande sopão” de múltiplos ingredientes.
Entrevistei 52 pessoas aleatoriamente m bares e restaurantes da Vila Mariana e do Campo Belo, simplesmente perguntando:
“Você sabe porque está sendo requerido o impeachment da presidente?
Em caso afirmativo, qual é o motivo?
Você sabe o que são as tais pedaladas fiscais?
Um terço da amostra respondeu que não sabe direito, mas a presidente tem que sair.
Outro terço diz que sabe, verbalizando motivos como corrupção, mentiras da campanha, o escândalo da Petrobrás e falcatruas com o Lula.
E o outro terço mencionou as pedaladas fiscais, mas desse mesmo terço a grande maioria confessou não saber direito do que se trata favor. Daí emergiu o termo prevaricação.
As Pedaladas Fiscais certamente não seduzem a população, mesmo a que está a favor do impedimento.
Poucos saem à rua com faixas e cartazes: “Abaixo as Pedaladas Fiscais”.
Mas milhões querem ver Dilma e o PT pelas costas por sua inépcia, desmandos na economia, pelas mentiras deslavadas e mormente pela corrupção.
Pessoas das mais diversas profissões, entrevistadas diariamente pelo jornal Folha de S. Paulo, ao se declarar a favor do impeachment, declaram:
“Precisamos virar a página para restabelecer a Economia do país”
Todavia, lembremos que o impedimento está sendo recomendado e será votado por crime de responsabilidade traduzido pelas Pedaladas Fiscais. Mas certamente temperado por aqueles já citados outros ingredientes: as mentiras, a inépcia da presidente, a combinação inflação-desemprego-recessão, e o elemento final, corrupção.
Daí a segunda sondagem, na qual foram consultadas 101 pessoas, homens e mulheres acima de 22 anos, de classe média e acima.
Oitenta e dois respondentes pertencem ao corpo de professores e funcionários da ESPM, e dezenove foram entrevistados durante o 7º Congresso de Pesquisa de Mercado realizado dias 5 e 6 de abril último em São Paulo, capital.
As duas indagações foram rápidas e diretas:
“Você é a favor ou contra o impeachment da presidente”?
“Você pensa que passa ou não passa na Câmara? ”
A alternativa não sei não foi oferecida, mas foi verbalizada por quatro pessoas, excluídas da amostra.
Os resultados:
A favor do impedimento: 61
Contra o impedimento: 41
O impedimento passa na Câmara: 62
O impedimento não passa na Câmara: 39
E o mais interessante foi a antinomia observada entre os que são a favor do impedimento mas acham que não passa, paralelo aos que são contra o impedimento, mas consideram que de fato passa: 49 em 101, o que configura quase 50%.
E enquanto os prezados telespectadores anotam a receita do especial ministrone, junto a esses últimos dados comentados por jornalistas, a TV… anuncia a próxima atração:
O filme “Car Wash – onde acontece de tudo” (1976). Gira em torno de empregados de uma lavadora (…) de carros nos Estados Unidos, que lidam com clientes estranhos enquanto os carros são lavados.
Garantia de audiência.