Entre a Ásia e a ESPM, um Núcleo de Estudos. E de Negócios

A tarefa não é fácil. Mas, a aposta é boa. Diferentes analistas internacionais repetem que o século XXI será o “século da Ásia”. A afirmação inclui negócios (principalmente), cultura, busca de inovação, consumo… Nada excluído. Porém, como participar “dele”, desse século que fica do outro lado do Pacífico?

O embaixador e professor da ESPM, Fausto Godoy, 16 anos de serviço diplomático em 11 postos no continente asiático, Pequim, Tóquio, Islamabade, consulado geral do Brasil em Mumbai, entre outros, fez uma escolha para inaugurar o Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos da ESPM, um lugar aberto para discutir a “participação” nesse século asiático. Aliás, como coordenador, Godoy preferiu o deus hindu Ganesh, o do conhecimento, como imagem para Aula Magna que marcou o começo do novo Núcleo. Motivo: Ganesh é também cultuado na Índia como “destruidor de obstáculos”.

Um dado na fala de Abhilasha Joshi, consulesa geral da Índia em São Paulo, na Aula Magna explica bem a opção por Ganesh. De tamanho bastante assemelhado, as duas economias, a do Brasil e a da Índia (com PIBs em torno de dois trilhões de dólares) têm comportamento muito tímido no comércio entre eles. O Brasil vende para a Índia apenas 2,5% do total de suas exportações. E compra apenas 1,3% do total que a Índia vende ao mundo. As possibilidades de expansão desse comércio são enormes: a Índia é um dos países que mais crescem na economia internacional: média de 7% de expansão do PIB ao ano, nas duas últimas décadas. Um mercado de 1,3 bilhão de pessoas, com mais de um terço de sua população com menos de 30 anos é efetivamente promissor. Em todos os sentidos.

Por esta razão, o Diretor Geral da Graduação/São Paulo da ESPM, Luiz Fernando Garcia, definiu o Núcleo na apresentação Aula Magna, como um “marco” para a escola, mas, também, como uma “oportunidade“ para o País. O Presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia, Roberto Paranhos do Rio Branco, também presente na Aula Magna, explicou bem este sentido de oportunidade mostrando a evolução da corrente de comércio entre os países, construída essencialmente por um ativo relacionamento empresarial. Paranhos demonstrou a eficiência de Foruns de negociação comercial capitaneados por CEOs e o papel que já representaram no desenvolvimento do comércio bilateral entre Nova Delhi e Brasília. Paranhos apontou possibilidades impressionantes de expansão na venda de serviços para a Índia, no território aberto pela expansão do varejo, para construção de marcas em um mercado de 350 milhões de pessoas, com ativo poder de compra, e de outro bilhão ansioso por também consumir.

Nesse aspecto, a fala de Ismael Rocha, Diretor Acadêmico da Graduação/SP, na apresentação da Aula Magna, destacou o papel do Núcleo como “laboratório”, um espaço para os alunos construírem “ novas trajetórias” buscando atuação em “coisas novas”. O presidente da Câmara de Comércio Brasil-Índia, aliás, descreveu a imensa oportunidade do “setor de Publicidade” no contexto hindu, apontando muitas “pioneiras construções de marcas” em um território especialmente receptivo às diferentes formas de prestação de serviço.

No debate, um aluno do curso de Relações Internacionais fez uma pergunta sobre “questão cambial” e abriu espaço para uma definição dos convidados para as três prioridades na relação Brasil- Índia. A consulesa Abhilasha Joshi, foi enfática na sua resposta: primeiro, energia (de fato, a Índia é excelente compradora de petróleo brasileiro), depois “segurança alimentar (a Índia produz pouco mais de um terço dos grãos que precisa) e, por último, o “desenvolvimento de habilidades” citando expressamente os serviços brasileiros de formação de mão de obra técnica como muito relevante para o desenvolvimento do relacionamento entre os países.

O experiente negociador empresarial Roberto Paranhos foi ainda mais específico ao escolher suas prioridades: maior entrosamento na cadeia produtivo brasileira de alimentos com as necessidades da Índia, oferta de novos produtos no mercado asiático, exemplo cosméticos, e depois todos os serviços de infraestrutura que a engenharia brasileira pode oferecer para um país que cresce 7% ao ano.

O professor do curso de Relações Internacionais Marcelo Zorovich, mediador de todo o encontro, já na abertura lembrou que a escolha do deus Ganesh tinha muito sentido, como deus do conhecimento. Mas, sem dúvida, será como “destruidor de obstáculos” que esse possível patrono do Núcleo de Estudos e Negócios Asiáticos, com certeza, mais irá atuar.

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