Entenda por que a Europa teme o bloqueio do petróleo da Rússia

Os Estados Unidos têm dito que estão conversando com aliados europeus sobre barrar as importações de petróleo russo, mas a União Europeia não está pronta para o jogo. A Alemanha abriu caminho nesta segunda-feira (7) ao explicar por que o bloco não está seguindo o exemplo –pelo menos por enquanto.

O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse no fim de semana que havia uma discussão “muito ativa” com aliados europeus sobre a possibilidade de proibição das importações de petróleo russo.

Por mais ativo que seja, esse diálogo não parece estar produzindo uma abordagem harmonizada. Enquanto o governo Biden tem sinalizado sua disposição a congelar as importações de petróleo russo, Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, rejeitou a ideia.

“Todos os nossos passos são projetados para atingir duramente a Rússia e ser sustentáveis em longo prazo”, disse Scholz em comunicado na segunda. “Neste momento, o suprimento de energia na Europa para aquecimento, mobilidade, fornecimento de energia e indústria não pode ser garantido de outra forma. Por isso, é de fundamental importância para a prestação de serviços públicos e para a vida cotidiana de nossos cidadãos.”

A posição da Alemanha, que está sendo espelhada no nível da União Europeia, marca uma divergência incomum após duas semanas de impressionante sincronização transatlântica das sanções. Mas reflete realidades políticas contrastantes em Washington e na Europa.

O governo Biden sofre intensa pressão no Capitólio por um bloqueio ao petróleo –inclusive por importantes democratas–, movimento que as pesquisas sugerem que teria apoio popular, apesar do aumento dos preços nas bombas. Dada a porcentagem das receitas orçamentárias russas que derivam da indústria do petróleo, os defensores da medida argumentam que ela atingiria uma importante fonte de financiamento para a invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, infligindo danos significativos ao seu esforço de guerra.

Em Berlim, no entanto, os políticos estão muito cientes de que o país é muito mais dependente dos recursos naturais russos –mais de 55% do gás importado pela Alemanha vêm da Rússia, assim como metade de seu carvão e 35% de seu petróleo. A Alemanha não é de forma alguma a única na Europa que depende tanto dos combustíveis fósseis russos.

Se a UE e os EUA impusessem restrições simultâneas às importações de petróleo da Rússia, o aumento nos preços do petróleo bruto poderia ser extremo. Por isso, algumas autoridades argumentam que pode ser menos prejudicial para os EUA se moverem sozinhos, pelo menos neste estágio, descartando a ideia de que haja qualquer divergência transatlântica sobre a estratégia de sanções.

Há também um argumento para que a UE mantenha mais poder de fogo de sanções em reserva, guardando espaço para intensificar sua reação a Putin, se necessário.

Os danos colaterais das rodadas de sanções existentes já são suficientes para levantar preocupações sobre a força da recuperação econômica da UE, o que significa que muitas capitais veem argumentos para pausar e considerar o impacto do atual pacote de penalidades antes de se contemplar um ataque contra algo tão sensível quanto as exportações russas de energia.

Mark Rutte, primeiro-ministro da Holanda, alertou ontem sobre as “enormes ramificações” que resultariam de uma proibição imediata dos combustíveis fósseis russos. “A dolorosa realidade é que ainda dependemos muito do petróleo e do gás russos”, disse ele.

O aumento nos preços do petróleo e do gás causado pelo conflito na Ucrânia e as medidas ocidentais para punir Moscou aumentaram a ameaça do pior choque estagflacionário a atingir as economias importadoras de energia desde a década de 1970.

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2022/03/entenda-por-que-a-europa-teme-o-bloqueio-do-petroleo-da-russia.shtml

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