Energia solar: EUA preparam programa ambicioso

A energia solar tem potencial para suprir até 40% da eletricidade consumida pelos EUA em 15 anos – um aumento de dez vezes em relação à atual produção de energia solar. Mas isso exigirá grandes mudanças na política americana e bilhões de dólares em investimentos federais na modernização da rede elétrica do país, aponta um estudo do Departamento de Energia (DoE) divulgado ontem. 

Aumentar a energia solar para o nível de 44% exigirá um aumento nos gastos público e privado de até US$ 562 bilhões entre 2020 e 2050, diz o relatório. O custo da nova infraestrutura para acomodar a energia solar, como linhas de transmissão e baterias de armazenamento, provavelmente serão repassados aos contribuintes. 

Investimentos em energia solar e outras fontes limpas, diz o estudo, podem oferecer um benefício econômico estimado em US$ 1,7 trilhão, em parte com a redução do custos da poluição com a saúde. 

Segundo o DoE, o governo Biden não planeja estabelecer uma nova meta para a energia solar com base nesse estudo, como sugeriu o jornal “New York Times”. Mas especialistas apontam que o documento delineia um plano para a rápida implantação de energia solar em todo o país. 

Jennifer Granholm, secretária de Energia, disse em um comunicado que o estudo “ilumina o fato de que a energia solar, nossa fonte de energia limpa mais barata e em crescimento mais acelerado, poderá produzir eletricidade suficiente para suprir todos os lares americanos até 20356 e empregar no processo até 1,5 milhão de pessoas”. 

A divulgação do relatório ocorre após o presidente Joe Biden ter declarado que as mudanças climáticas se tornaram “uma crise de todos”, durante visita às áreas atingidas pelo furacão Ida. Biden alertou na terça-feira que é hora dos EUA levarem a sério o perigo representado pelas mudanças climáticas, se não quiserem enfrentar a perda de vidas e propriedades. 

Os EUA instalaram um recorde de 15 GW de capacidade de geração de energia solar em 2020 e esse tipo de energia agora representa pouco mais de 3% da atual oferta de eletricidade, segundo o DoE. 

Até 2050 a energia solar poderá fornecer 1.600 GW em uma rede de emissão zero de carbono – produzindo mais eletricidade do que a consumida hoje em todos os prédios residenciais e comerciais do país, informa o relatório. A descarbonização de todo o sistema de energia poderá resultar em até 3.000 GW de energia solar até 2050, em razão do aumento da eletrificação do transporte, edifícios e setores industriais, diz o relatório. 

Para obter esse aumento, os EUA terão de instalar uma média de 309 GW de capacidade de geração de energia solar por ano entre agora e 2025 – o dobro da taxa atual – e 60 GW por ano de 2025 até 2030, diz o relatório. 

Mas a energia solar é muito dependente de materiais e painéis da China – acusada de usar trabalho forçado em sua cadeia de fornecimento, o que Pequim nega. Biden impôs sobretaxas à importação de material solar chinês e manteve as tarifas da era Trump sobre materiais solares chineses, elevando os custos para o setor e desacelerando seu crescimento. 

Além disso, os custos de materiais como aço e alumínio, a escassez de semicondutores e as tarifas comerciais pressionam a cadeia de suprimentos do setor, enquanto a fabricação global de baterias, necessária para armazenar energia renovável, não consegue acompanhar a demanda existente. 

Abigail Ross Hopper, CEO da Solar Energy Industries Association (SEIA), diz que o estudo do DoE “deixa claro que não alcançaremos os níveis de descarbonização de que precisamos se não houver avanços nas políticas”. 

A SEIA enviou ontem uma carta do Congresso, em que um grupo de 748 empresas de energia solar solicita uma extensão e aumento do crédito fiscal de investimento solar e mudanças como a melhoria da resiliência da rede. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/09/09/eua-preparam-ambicioso-programa-de-energia-solar.ghtml

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