‘Empresas europeias têm de competir globalmente’, diz nova dirigente da UE

A nova chefe de concorrência da União Europeia sinalizou uma nova era na forma como Bruxelas lida com as fusões e aquisições, prometendo que as regras de fusão do bloco “evoluirão” para ajudar as empresas europeias a crescerem e enfrentarem rivais globais.

Ribera disse que adotaria uma abordagem “passo a passo” para as reformas, removendo barreiras à inovação e aumentando a competitividade da UE, que tem ficado atrás dos EUA e da China.

A socialista espanhola, que foi vice-premiê em Madri, foi nomeada esta semana para assumir o que é, provavelmente, a pasta de políticas mais poderosa da nova Comissão Europeia, supervisionando a transição verde, a competitividade econômica e a aplicação do regime antitruste.

Em sua primeira entrevista desde que foi indicada para o cargo, ela afirmou que Bruxelas deveria trabalhar para incentivar “ecossistemas industriais” em torno de produtos, como a fabricação de carros, para atrair investimentos e melhor direcionar o capital limitado da região para uma transição verde suave.

Ela também apontou para uma possível mudança controvertida na forma como a UE lida com fusões e o surgimento de empresas que alguns líderes chamam de “campeões europeus”. “Há uma questão de tamanho no nível internacional… Acho que pode haver a necessidade de melhorar as coisas”, disse Ribera.

“Sobre o papel a ser desempenhado por esta [pasta de concorrência], claro, não é exatamente o mesmo [de antes], mas algo que precisa

Sua antecessora, a liberal dinamarquesa Margrethe Vestager, que dirigiu a pasta por uma década, disse esta semana que Bruxelas deve ter cuidado com uma reforma ampla das regras de fusão, pois isso poderia abrir uma “caixa de Pandora” e criar “muita incerteza”.

“Margrethe fez um ótimo trabalho e precisamos ver até que ponto esse grande trabalho precisa evoluir… passo a passo”, disse Ribera.

Ela disse ser a favor de oportunidades transfronteiriças ao pensar em como expandir a indústria europeia. “Precisamos ser um pouco mais inovadores na forma como construímos um mercado único europeu que funcione bem, onde não apenas os interesses nacionais e locais encontrem um lugar, mas onde esses interesses combinem com os interesses europeus”, disse Ribera. “Este será um dos desafios: como podemos construir esse entendimento europeu. Não apenas campeões nacionais, mas o entendimento europeu.”

Seus comentários vêm em um momento particularmente sensível em Bruxelas, onde os reguladores de concorrência estão sob pressão política por impedirem que as principais corporações europeias cresçam. Ao mesmo tempo, algumas capitais temem que reformas significativas deem aos Estados-membros poderosos, como França e Alemanha, a oportunidade de recuperar poder da comissão, a principal autoridade de concorrência da UE, em uma área onde Bruxelas provou sua independência.

Ribera também enfrenta a difícil tarefa de equilibrar as ambiciosas metas climáticas da UE, as aspirações de impulsionar a indústria e a resistência das capitais à velocidade e ao custo da transição verde. Alguns governos de centro-direita da UE estão cautelosos com sua posição em questões climáticas.

Ela disse que revisar as regras de auxílio estatal do bloco para potencialmente favorecer investimentos verdes era uma maneira de satisfazer ambos os lados. “As metas [climáticas] fornecem alguns sinais sobre o que queremos alcançar, mas precisamos criar os elementos, os incentivos e a confiança para fazê-lo, e isso depende do custo do capital.”

O ex-presidente do BCE, Mario Draghi, disse em um relatório marcante este mês que a UE precisava de investimentos adicionais no valor de € 800 bilhões por ano para corrigir sua competitividade atrasada. Ribera se absteve de citar sua própria avaliação, mas acrescentou: “O que está claro é que a quantidade de capital que precisa ser investida para acelerar essa transição é tão importante que é melhor não cometermos erros.”

Aos 55 anos, ela também afirmou estar aberta ao entendimento com os Estados-membros sobre quais lições poderiam ser aprendidas com a aceleração e flexibilização das regras de auxílio estatal, particularmente durante a crise energética do bloco após a invasão da Ucrânia pela Rússia.

“Se tomarmos as decisões certas, criaremos oportunidades fantásticas”, disse ela. “Se atrasarmos essas decisões, podemos matar oportunidades. “Teremos de enfrentar as consequências em longo prazo.”

Ribera, que também foi ministra da Transição Ecológica da Espanha antes de sua mudança para Bruxelas, há muito é uma defensora poderosa de políticas climáticas ambiciosas e foi uma das principais arquitetas do Acordo Climático de Paris de 2015.

Ela já foi militante na postura de oposição à energia nuclear, o que pode colocá-la em conflito com legisladores pró-nucleares da França e da Europa Oriental no Parlamento Europeu, onde terá que passar por uma audiência para assumir o cargo.

Abrandando seu tom anterior, ela disse que não era uma questão de “sim ou não” quando perguntada se achava que Bruxelas deveria apoiar investimentos em energia nuclear. As capitais da UE devem decidir quais tecnologias usarão para descarbonizar, disse, mas alertou que “devemos evitar matar as oportunidades fáceis de alcançar e que podem ocorrer de forma muito mais rápida”. Usinas nucleares são notoriamente caras e muitas vezes levam muitos anos para serem construídas.

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