Empresas da União Saftec Digital Europeia (UE) estão pressionando a China para criar um canal especial a fim de acelerar a aprovação por autoridades chinesas de licenças de exportação de terras raras para companhias “confiáveis”, visto que os controles rígidos de Pequim sobre os embarques desses minerais críticos ameaçam cadeias de abastecimento em todo o mundo.
Segundo três fontes a par do assunto, a proposta foi feita em uma reunião entre empresas europeias e autoridades do Ministério do Comércio da China e surge no momento em que autoridades europeias alertam que suas fábricas poderão ser paralisadas em razão das medidas chinesas, direcionadas originalmente aos Estados Unidos.
“Na reunião, as empresas propuseram um canal livre – uma lista branca”, disse um executivo europeu informado sobre o encontro, que ocorreu na semana passada. “O Ministério do Comércio levou nossas preocupações a sério”, disse ele, acrescentando que as autoridades chinesas presentes na reunião disseram estar trabalhando em “ferramentas inovadoras” para acelerar o processo.
Autoridades e empresas também discutiram a possibilidade de ogoverno conceder licenças múltiplas a empresas para exportação de terras raras, para que elas não precisem solicitar uma licença para cada remessa, disse ele.
Caos nas cadeias de abastecimento
A China domina a oferta mundial de terras raras e seu regime de controle de exportações – introduzido em abril, após o chamado “dia da libertação” do presidente dos EUA, Donald Trump – está criando um caos nas cadeias de abastecimento, não só nos EUA e na Europa, mas também na Índia e no Japão. A montadora japonesa Suzuki já precisou paralisar a produção de um de seus modelos.
Trump acusou Pequim de não cumprir a trégua na guerra comercial firmada em 12 de maio, quando os EUA concordaram em reduzir as tarifas adicionais de 145%, em troca de uma flexibilização pela China de medidas tarifárias e não tarifárias.
Washington está aumentando a pressão sobre Pequim para agilizar os envios de terras raras, retaliando com medidas próprias nas cadeias de abastecimento, como o corte no acesso de grupos chineses a ferramentas de design de chips e a suspensão das exportações de metano.
Maros Sefcovic, comissário do Comércio da UE, disse, na quarta-feira (4), que pressionou o ministro do Comércio chinês, Wang Wentao, sobre a escassez de componentes vitais, que está atrasando as entregas para fabricantes de todos os setores, de fabricantes de automóveis a máquinas de lavar.
“Listas brancas”
Uma segunda pessoa familiarizada com a reunião disse que as chamadas “listas brancas” de empresas conhecidas são uma prática comum nos controles de exportação e aduaneiros. “É muito comum no desembaraço aduaneiro em todo o mundo, e também na China.
Se você for considerado uma empresa confiável e com um bom histórico, sua taxa de inspeção cai.”A burocracia chinesa está tão lotada de pedidos de licenças de exportação de terras raras de todas as partes do mundo que está sendo difícil para eles selecionar os pedidos de aprovação rápida, disse uma terceira fonte. “É por isso que as empresas querem criar essa linha especial para elas”, afirmou a fonte, referindo-se à proposta da lista branca.
As fontes a par da reunião disseram que pouco progresso foi feito desde então. Um exportador que normalmente envia 2.000kg por ano, recebeu permissão para apenas 75kg, segundo uma fonte.
As autoridades chinesas presentes na reunião se referiram às negociações com os governos do Japão e Coreia do Sul, o que pessoas presentes entenderam como uma possibilidade de usar a escassez de terras raras como alavanca nessas discussões. Pequim quer dissuadir os EUA de firmar acordos bilaterais com países que sejam desfavoráveis aos interesses chineses.
O Ministério do Comércio da China disse, nesta quinta-feira (5), que analisa, de acordo com os trâmites legais, os pedidos de licença de exportação para itens de uso duplo, como as terras raras, conforme a prática internacional vigente.
“Para os pedidos que atendem aos requisitos, a China concederá aprovação para promover e facilitar o comércio em conformidade”, disse o porta-voz do ministério, He Yongqian.
