Eleito em maio à Presidência da França, Emmanuel Macron, 39, prometia governar como o deus romano Júpiter, todo-poderoso no Olimpo.
Ele chegou ao Palácio do Eliseu com o aval de 66% dos eleitores e o apoio de líderes como a chanceler alemã, Angela Merkel, e o ex-presidente americano Barack Obama.
Cem dias após tomar posse, completados na terça (22), porém, e Macron se parece mais com outra divindade: Plutão, o deus do submundo.
O apoio de 66% dos eleitores franceses caiu para 59%, em junho, 51% no mês seguinte e chegou em agosto a 37%. Os valores foram medidos pela empresa de opinião pública Harris Interactive entre 8 e 10 de agosto com 994 entrevistados. A margem de erro da pesquisa é de 2,9 pontos percentuais, como mostrou matéria da Folha de S. Paulo de 25/08.
Assim, a aprovação de Macron paira no mesmo nível do americano Donald Trump, de 35% na aferição mais recente do instituto Gallup.
Macron perde mesmo em comparação com os antecessores. O socialista François Hollande, que no último ano de mandato chegou a ínfimos 4%, tinha 46% aos cem dias.
A impopularidade vem apesar da ampla vitória de Macron em maio, quando derrotou de uma só vez Marine Le Pen, da direita ultranacionalista, e os tradicionais Partido Socialista e Republicanos. Prometia romper o marasmo da política local.
Macron teve também o aval da população um mês depois, quando venceu as legislativas com folga —seu movimento, o centrista o República em Marcha!, ganhou 350 assentos de um total de 577.
Apesar do desempenho, já se imaginava que o presidente rolaria rapidamente rumo à impopularidade. Ele propunha na campanha reformar as leis trabalhistas, flexibilizando uma instituição francesa: a jornada de trabalho de 35 horas semanais.
Sindicatos preparam protestos contra a medida em setembro. As manifestações devem agregar estudantes e aposentados, engordando as fileiras dos descontentes e apresentando um desafio real ao presidente Macron.
Não lhe sobram muitas saídas para manter a popularidade em alta, porém.
O socialista Hollande tentou também reformar as leis trabalhistas e, diante da pressão das ruas, recuou —ainda assim, deixou o mandato como o presidente mais impopular da história moderna francesa.
Já estava evidente nas eleições presidenciais, em maio, que os 66% dos votos recebidos por Macron não significavam apoio incondicional. Parte dos eleitores votou nele só para impedir a radical Le Pen de chegar ao poder.
Características que pareciam positivas à época, como sua ambição, passaram também a incomodar eleitores, para quem o presidente está muito distante do povo.
Macron dá poucas entrevistas e costuma discursar em salões como o do palácio de Versalhes, que foi outrora sede da monarquia francesa.
Seu plano de dar um salário à mulher, Brigitte, a ser pago pelos contribuintes, também afetou seu apoio. Uma petição online recolheu 300 mil assinaturas desfavoráveis, e a proposta foi então abandonada.
Somou-se a isso um atrito com o Exército, com alto custo à sua popularidade. Macron discutiu com o general Pierre de Villiers sobre reduzir o orçamento das Forças Armadas. Quando Villiers protestou, Macron retrucou: “Sou seu chefe”. O general, a principal figura militar do governo, renunciou.
Para o cientista social Bruno Cautres, da Sciences Po, Macron precisa mudar a estratégia de comunicação se quiser recuperar apoio.
O presidente a princípio se recusou a dar entrevistas, em contraposição à imagem do socialista Hollande, bastante aberto à imprensa. Essa tática deve ser suavizada aos poucos, prevê Cautres.
“Macron criou muitas expectativas durante a campanha, dizendo que faria uma revolução”, afirma ele. “Quando você diz esse tipo de coisa, cria ansiedades que talvez não possa cumprir.”