Economia do euro já volta a padrão de atividade pré-covid

Os consumidores da zona do euro estão voltando aos bares e restaurantes, agendando férias e se deslocando aos locais de trabalho, segundo dados não oficiais que sugerem a volta gradual dos padrões de atividade econômica verificados antes da pandemia. 

O uso do transporte público e os deslocamentos até os locais de trabalho atingiram seus níveis mais altos desde o início de 2020 em muitos países, segundo dados de alta frequência. Esses dados alternativos passaram a ser mais observados por oferecerem uma medida mais adequada da atividade, embora eles sejam menos amplos e confiáveis do que os oficiais. 

“Estamos voltando muito rapidamente a uma forma de normalidade”, disse Bert Colijn, economista do ING. Várias medidas de atividade já estão superando os níveis do terceiro trimestre de 2020. “Isso alimenta as expectativas de uma rápida recuperação econômica”. 

A maioria dos Estados-membros da União Europeia (UE) está reabrindo suas economias na medida em que os casos diminuem, aumentando a confiança desses países. As infecções vêm caindo desde maio e cerca de metade da população da UE já recebeu ao menos uma dose de uma vacina contra a covid-19, embora venham aumentando as preocupações com a disseminação da variante Delta, que é mais contagiosa. 

O afrouxamento das restrições está “deixando a população mais disposta a retomar velhos hábitos”, disse Jack Allen-Reynolds, da consultoria Capital Economics. 

Até a metade de junho, os deslocamentos aos locais de trabalho nas maiores economias da zona do euro estavam cerca de 10% abaixo dos níveis de janeiro de 2020, mas isso é bem mais que o nível de junho do ano passado e o mais alto desde o começo da pandemia, segundo dados do Google Mobility. Com a volta aos escritórios, o tráfego nos sites de comércio eletrônico e conferências online vem caindo, aponta o site SimilarWeb, que monitora o tráfego na internet. 

Os dados mais recentes de licenças de trabalho na Espanha e Alemanha mostram que em maio o número de pessoas que recebiam subsídios ao emprego caiu ao menor nível do ano. Enquanto isso, o site Indeed registrou um forte aumento nas ofertas de empregos. 

Um número maior de pessoas também começa a sair de casa. Em alguns países da zona do euro os deslocamentos para aeroportos e estações de trens e ônibus atingiram o maior nível desde o verão passado em muitos lugares. 

Na Alemanha, as reservas de restaurantes e os gastos com consumo estão em alta e são os mais elevados desde junho de 2019, segundo a OpenTable e a Fable Data, que monitoram transações bancárias. 

Allen-Reynolds observa que alguns consumidores acumularam grandes volumes de poupança no último ano e podem estar “ansiosos para gastar”, o que deverá fazer do consumo interno o provável condutor do crescimento. 

Mas algumas áreas da economia estão longe do normal, como as cadeias de suprimentos. Por causa das rupturas e problemas de falta de insumos, a “atividade industrial deverá continuar reduzida” até o segundo semestre, diz Chiara Zangarelli, economista da Nomura. 

Algumas áreas do setor de lazer, como clubes noturnos, shows e cinemas continuam fechadas em grande parte da Europa. Os cinemas reabriram em alguns países, mas com capacidades limitadas. 

O tráfego aéreo europeu de junho é só a metade do mesmo período de 2019, segundo a Eurocontrol. Mas está perto do nível mais alto desde o começo da pandemia. “Estamos um pouco menos otimistas com as perspectivas de uma recuperação plena do setor de turismo neste ano, especialmente no caso dos países que dependem muito dos turistas estrangeiros”, disse Fabio Balboni, economista do HSBC. 

Mas Tomas Dvorak, da consultoria Oxford Economics, diz que dados de busca na internet indicam que a atividade relacionada ao turismo “aumentou bastante nas últimas semanas, sugerindo uma demanda vigorosa em formação”. 

Outro sinal encorajador são as reservas online de férias da Transparent, que mostram um rápido crescimento dos aluguéis de imóveis por períodos curtos. 

Na maior parte da regiões da Alemanha e França, as reservas estão muito maiores do que em junho de 2019, sugerindo que os viajantes estão aproveitando as férias em seus próprios países. Dvorak acredita que o turismo interno será “bem forte” neste ano em relação a antes da pandemia, mas “nem tanto em relação a 2020”. “É um bom sinal quando os consumidores respondem prontamente ao relaxamento de restrições, mesmo quando se trata do turismo.” 

Em suma, as expectativas dos economistas para a recuperação econômica da zona do 

euro estão aumentando. Na semana passada, o Banco Central Europeu (BCE) elevou sua previsão de crescimento da zona do euro em 2021 em 0,6 ponto percentual, para 4,6%, e economistas afirmam que o bloco poderá se recuperar totalmente do impacto da pandemia já no quarto trimestre deste ano. 

“A julgar pelas pesquisas encorajadoras sobre o sentimento, o grande número de encomendas e a recuperação dos dados sobre o consumo, a zona do euro deverá retornar ao seu PIB pré-pandemia no terceiro trimestre de 2021”, diz Holger Schmieding, economista-chefe da Berenberg. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2021/06/23/economia-da-zona-do-euro-ja-volta-a-padrao-de-atividade-pre-covid.ghtml

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