Economia chinesa dá sinais de forte recuperação

A atividade econômica se expandiu acentuadamente na China pelo segundo mês seguido em fevereiro, em um sinal de que o país pode estar deixando para trás —antes do que se esperava — o impacto da política de covid-zero.

A produção industrial subiu no ritmo mais rápido em mais de dez anos em fevereiro, enquanto os pedidos de exportação aumentaram pela primeira vez em quase dois anos, informou nesta quarta-feira (01) a Agência Nacional de Estatísticas da China. A atividade nos setores de serviço e construção também cresceu.

A pesquisa Caixin PMI, também divulgada nesta quarta-feira (01), que mede a atividade em mais empresas do setor privado, incluindo as menores, apontou uma melhora nos pedidos, poder de precificação, emprego e cadeias de suprimentos, com a confiança nos negócios no nível mais alto desde março de 2021. 

Alguns economistas alertam que embora a atividade pareça ter se recuperado subitamente na China, o efeito disso para o resto da Ásia pode ser limitado. 

Os dados divulgados ontem mostram que um índice dos novos pedidos de exportação da China subiu para 52,4 pontos em fevereiro, o maior desde maio de 2011. Mas outros dados da região sugerem que a demanda mundial por bens deve continuar desacelerando. As exportações da Coreia do Sul caíram 12% ao ano nos primeiros dois meses do ano, após uma queda de 10% em dezembro, sugerindo mais desaceleração da demanda global por bens, apesar da recuperação da China até agora. 

O turismo para o exterior também não se recuperou tão rapidamente quanto as viagens dentro da China, apresentando vantagens limitadas para países como Tailândia e Japão, destinos populares entre os turistas chineses. 

Ainda assim, as perspectivas melhores para a China deverão compensar parte do arrefecimento em curso nas economias avançadas, especialmente nos EUA, onde o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) está tentando conter a inflação sem provocar uma recessão. Em janeiro, o Fundo Monetário Internacional (FMI) melhorou sua previsão de crescimento para a China para 5,2% em 2023 e previu que o país contribuirá com cerca de um terço do crescimento mundial neste ano. 

Os dados deram impulso às ações chinesas. O índice Hang Seng, da Bolsa de Hong Kong, fechou ontem em alta de 4,2%. 

Os dados também representam um alívio bem-vindo para os líderes chineses que se reúnem neste fim de semana no congresso anual do Partido Comunista, ao redirecionar as atenções dos danos causados pela política de tolerância zero com a covid-19 para o crescimento econômico. A economia da China cresceu 3% em 2022, uma das menores taxas em décadas, depois que os rígidos controles de combate à pandemia fecharam fábricas, derrubaram as vendas de casas e reduziram os gastos do consumidor. Os dados podem fortalecer o argumento para as autoridades elevarem suas previsões de crescimento anual para este ano, algo fundamental para restabelecer a confiança na economia e também na liderança do país. O crescimento de 2022 ficou bem abaixo da meta oficial de 5,5%. 

Autoridades chinesas e consultores econômicos discutiram no começo deste ano a definição de uma meta de crescimento de cerca de 6% para 2023, segundo fontes a par do assunto. He Li- feng, que em outubro entrou para o principal órgão de formulação de políticas do PC, o Politburo, está elaborando um plano para um crescimento de mais de 5% para este ano. 

Espera-se que a meta final de crescimento seja revelada em um relatório de trabalho do governo a ser entregue neste domingo ao Congresso Nacional do Povo. 

O índice oficial de atividade industrial da China subiu de 50,1 em janeiro para 52,6 em fevereiro — resultado que superou as expectativas dos economistas. Números acima de 50 pontos indica expansão; abaixo disso, contração. 

O indicador oficial das atividades não manufatureiras — incluindo as dos setores de serviços e construção — subiu de 54,4 para 56,3 em fevereiro. 

A atividade do setor da construção subiu de 56,4 em janeiro para 60,2, depois que os governos locais aumentaram as vendas dos chamados bônus especiais geralmente atrelados a gastos de infraestrutura. Cerca de 860 bilhões de yuans (US$ 124 bilhões) dessas dívidas foram vendidos nos primeiros dois meses do ano, mais do que oito vezes a média mensal do segundo semestre de 2022, segundo a consultoria Capital Economics. 

Alguns economistas disseram que é preciso evitar uma leitura otimista demais com os dados de fevereiro, uma vez que eles refletem fatores como o feriado do Ano Novo Lunar, além da demanda reprimida liberada pela flexibilização dos controles da política de covid-zero em dezembro e janeiro. 

“Embora a economia da China esteja de fato se recuperando, ela ainda não chegou ao ponto em que um crescimento de 6% estará garantido”, disse Larry Hu, economista-chefe do Macquarie Group para a China, que prevê um crescimento de 5,5% para 2023. 

https://valor.globo.com/mundo/noticia/2023/03/01/economia-da-china-d-sinais-de-que-est-saindo-da-sombra-da-covid-zero.ghtml

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