As economias europeias deverão sofrer grandes quedas do PIB neste ano devido ao coronavírus e aos confinamentos. Mas os economistas preveem que a recuperação será bastante desigual entre norte e sul
A maioria dos países do norte da Europa deverá se recuperar mais rapidamente da paralisação econômica induzida pela covid-19 que os do sul. Isso vai ressaltar as diferenças na zona do euro e a tensão política em torno de como pagar a conta do impacto da pandemia do coronavírus.
No norte, a Alemanha passa por um confinamento mais leve, tem espaço fiscal e quando a pandemia chegou estava numa melhor situação econômica. No sul, a Itália enfrenta uma grave crise de saúde, profunda paralisação econômica e tem uma dívida pública elevada, o que impede a adoção de incentivos agressivos.
Essa crescente divisão econômica representa um desafio à viabilidade de longo prazo da zona do euro. Por um lado corrói o apoio à moeda comum no sul da Europa, ao mesmo tempo em que dificulta ao Banco Central Europeu (BCE) a tarefa de fixar taxas de juros adequadas a todos os membros.
As economias europeias deverão sofrer grandes quedas do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano devido ao coronavírus e aos confinamentos. Mas os economistas preveem que a recuperação será bastante desigual.
A Alemanha deverá ter uma recuperação melhor que a do sul da Europa. O PIB alemão deverá ser 2,5% menor no último trimestre de 2021 em comparação ao mesmo período do ano passado, mas o PIB da Itália, segundo previsões, será 9,2% mais baixo na mesma base de comparação, e do da Espanha, 7,7% menor, segundo estimativa do Morgan Stanley. A taxa de desemprego da Alemanha deverá ser de 3,5%, em média, no ano que vem, enquanto a da Itália alcançará a média de 13% e a da Espanha, de 17%, de acordo com o relatório.
Enquanto o fechamento de fábricas foi a regra na Itália e na Espanha, menos que 20% das indústrias alemãs fecharam as fábricas nas últimas semanas, segundo o instituto de pesquisa econômica Ifo, sediado em Munique.
Na Itália e na Espanha, os confinamentos obrigatórios começaram antes do que na Alemanha e se estenderam à maioria das empresas não essenciais.
A maior fragilidade do sistema bancário do sul da Europa poderá amplificar o problema. Muitos bancos ainda estão às voltas com um grande volume de empréstimos em default gerados pela última crise financeira e terão dificuldades em financiar a recuperação da economia, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI).
A emergência na área de saúde pode empurrar entre 100-145 mil empresas italianas para uma situação de crise de liquidez, o que afetará 3,2 milhões de trabalhadores, segundo a consultoria italiana Cerved Group. Cerca de 80 mil empresas enfrentam o risco de esgotar sua liquidez até o fim de maio.
O turismo, um dos setores da economia mais duramente atingidos, representa 13% do PIB da Itália, 15% do da Espanha e 21% do da Grécia, mas apenas 9% do da Alemanha, de acordo com o World Travel and Tourism Council.
As indústrias alemãs dependem do comércio internacional e de longas cadeias de suprimentos globais, fatores que poderão enfrentar prolemas por meses ou anos. A sua indústria automobilística também enfrenta desafios de longo prazo, entre os quais a ascensão dos veículos elétricos, setor em que as alemãs ficaram atrás de concorrentes como a Tesla.
O governo da Alemanha tomou medidas agressivas para fazer frente ao choque, ao lançar políticas de incentivos fiscais equivalentes a cerca de 22% do PIB, comparativamente aos 14% alcançados pelas iniciativas correspondentes tomadas pela Itália e dos 3% da Espanha e da Grécia, segundo estudo do instituto de análise e pesquisa Bruegel, com sede em Bruxelas.
Os governos também tentam estimular os bancos a fornecer apoio à sobrevivência econômica por meio da concessão de empréstimos. Mas a ineficiência da máquina burocrática da Itália implica que até mesmo esse recurso muitas vezes é de difícil acesso para as empresas e as famílias, disse o economista Luigi Guiso, do Instituto Einaudi de Economia e Finanças, centro de análise e pesquisa financiado pelo Banco Central da Itália.