Com o desemprego no menor nível em meio século e constante crescimento salarial, os candidatos democratas na corrida presidencial de 2020 têm um desafio: como enfrentar Donald Trump na economia?
Na sexta-feira, os EUA relataram uma taxa de desemprego de 3,6%, com alta de 3,2% dos salários médios por hora, em comparação com um ano atrás.
Os dados foram um alívio bem-vindo para os republicanos e para Trump
pessoalmente, que se prepara para sua campanha de reeleição. “Vou concorrer com a ajuda da economia”, disse o presidente a repórteres na sexta-feira.
Uma pesquisa da CNN divulgada na véspera mostrou que 56% dos americanos aprovaram a forma como Trump conduz a economia – o maior porcentual desde março de 2017. Já o índice de aprovação geral de Trump continua baixo: 45% tem uma visão positiva do presidente, contra 54% que têm uma opinião negativa.
“Com esse ímpeto, estamos ansiosos para ouvir os planos econômicos dos democratas, que falam sobre os americanos não sentirem os resultados da economia com Trump, quando na verdade os trabalhadores estão vivendo o ‘boom’!” disse Kayleigh McEnany, secretária de imprensa da campanha de reeleição de Trump.
Até agora, nas prévias democratas de 2020, a economia ficou em segundo plano em relação a outros temas, como a saúde, questão número um para os eleitores em meados de 2018, segundo pesquisas de boca-de-urna. Embora alguns candidatos, como Elizabeth Warren, continuem insistindo na economia, outros candidatos concentraram os ataques na figura de Trump, ou em saúde e educação.
“A única questão em que Trump é remotamente competitivo com os democratas é a economia”, argumentou Simon Rosenberg, presidente da NDN, um centro de estudos de centro-esquerda.
Ele acrescentou que, apesar dos altos índices de emprego e do mercado de ações, ainda há espaço para os democratas elaborarem sua própria mensagem econômica sobre desigualdade de renda – algo que alguns dos candidatos já estão fazendo – ou para desafiar Trump em relação a comércio.
Para os democratas, o problema de desafiar Trump sobre a economia será sentido logo em Iowa, o primeiro Estado a votar na disputa pela candidatura presidencial de 2020 e que tem a terceira menor taxa de desemprego do país, junto com New Hamp-shire – segundo Estado a votar nas prévias partidárias deste ano.
Em Sheffield, cidade rural de Iowa com pouco mais de mil habitantes, Charles Sukup, presidente de uma fabricante de lixeiras e outros equipamentos, disse que sua empresa familiar se esforçou para encontrar os 200 funcionários em tempo integral que precisava contratar no ano passado, além dos trabalhadores sazonais.
“Em alguns casos, as pessoas estão ficando mais seletivas sobre quais trabalhos elas querem fazer”, disse Sukup. “Tem sido um desafio conseguir pessoal.”
Sobre a questão das guerras comerciais de Trump, Sukup disse: “Estamos contando aqui com o ditado de que as coisas pioram antes de melhorar”.
Sean Bagniewski, líder local do Partido Democrático, disse que os democratas no Estado ficaram animados depois de tomarem dos republicanos dois assentos na Câmara dos Deputados em 2018, o que indicava que havia espaço para avançarem contra Trump, focando na guerra comercial do presidente. e no seu impacto no preço de commodities e na economia agrícola.
David Swenson, economista da Iowa State University, apontou pesquisa feita pela universidade que descobriu que as políticas comerciais de Trump provavelmente tiraram US $ 1 bilhão do crescimento esperado do produto interno bruto do Estado no ano passado – levando a uma maior incerteza nas comunidades rurais.
Apesar de seu baixo índice de desemprego, Iowa está atrás dos vizinhos do Meio-Oeste em termos de crescimento econômico e salários, disse Jennifer Sherer, diretora do Centro de Trabalho da Universidade de Iowa. O número do desemprego também não reflete o número de pessoas que trabalha em vários empregos ou recebe salário baixo. “Temos essa discussão circular acontecendo… os empregadores dizem que precisamos de mais trabalhadores, mas vemos pressão de alta nos salários.”
Ou, como diz William Boal, professor de economia da Universidade Drake, de Iowa: “As pessoas têm emprego. Mas acontece que não são ótimos empregos. ”
Na cidade de Des Moines, Joe Brown, operador de empilhadeira, disse ter procurado o Projeto IOWA, uma organização sem fins lucrativos que fornece apoio e treinamento para desempregados ou subempregados, após não conseguir um emprego com um salário digno. “Eu posso conseguir [um emprego] agora, se eu aceitar um serviço temporário… Mas isso rende US $ 8 por hora, US $ 9 por hora. Eu quero um emprego de verdade, do qual eu possa viver.”
Numa recente parada em Des Moines, a candidata presidencial democrata Kamala Harris disse que acreditava que, para muitos americanos, a questão não é empregos, mas empregos que proporcionem um salário com o qual se possa viver. Por essa razão, disse ela, muitos americanos estão sendo forçados a aceitar múltiplas formas de emprego.
“Sim, as pessoas estão trabalhando. Mas eles estão trabalhando com um salário que lhes permite pagar o custo de vida?… No que me diz respeito, o que a população de Iowa quer, o que a maioria dos americanos acredita e concorda, é que nenhum americano deveria ter que trabalhar em mais de um emprego para poder pagar as contas, colocar comida na mesa e ter uma qualidade decente. da vida “, disse ela ao “Financial Times”.
https://www.valor.com.br/internacional/6239989/desemprego-baixo-nos-eua-e-desafio-eleitoral-para-oposicao-trump#