Nada está escondido. O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, ganhou domingo a primeira eleição direta para presidente da história do país. Caso ele confirme o plano de mudar a Constituição, leve para a presidência suas atuais atribuições e se reeleja em 5 anos, ficará no poder até 2023.
Erdogan, do islâmico Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), obteve 52% dos votos, o suficiente para vencer no primeiro turno. O principal candidato de oposição, Ekmeleddin Ihsanoglu, teve 39%, enquanto Selahattin Demirtas, do pró- curdo de esquerda Partido Democrático Popular, teve 10%. A vitória do premiê já era apontada por pesquisas.
Compreender melhor esta vitória exige lembrar um momento de definição na campanha presidencial da Turquia que ocorreu em 26 de julho, quando Recep Erdogan, entrou num estádio e, em 15 minutos, fez três gols em um goleiro profissional.
Volkan Babacan, goleiro de um dos principais times do país, parecia preso ao chão enquanto o primeiro-ministro de 60 anos chutava a bola e marcava, arrancando comentários extasiados de emissoras de TV.
O espetáculo serviu para lembrar aos eleitores turcos, que foram às urnas domingo de que seu primeiro-ministro foi um jogador de futebol semiprofissional antes de dedicar-se à política, como mostrou análise de Alexander Christie-Miller do Foreign Policy, que o Estadão publicou em 11/08 na pg A8.
Ao ocupar o cargo de presidente no dia 28, Erdogan deixará aos 60 anos a função de primeiro-ministro, que assumiu pela primeira vez em 2003 – ele se reelegeu em 2007 e 2011. Na próxima escolha do primeiro-ministro, marcada para 2015, Erdogan não poderia concorrer. Ao assumir a presidência, pelas regras atuais, ele também deverá deixar o partido.
A Turquia emergiu como uma força econômica regional sob Erdogan que, como primeiro-ministro por mais de uma década, levantou uma onda de religiosidade conservadora para transformar a república secular fundada por Mustafá Kemal Ataturk em 1923 (queficou no poder até 1938) em uma república religiosa.