Tudo de novo! Ontem, as bolsas europeias caíram e os juros das dívidas
de países como Itália e Espanha subiram muito. Muita gente já avisou:
a crise do euro voltou. Só que desta vez tem uma diferença: a crise se
formou na política e não apenas pelos conhecidos problemas econômicos.
O resultado prático desta história: a bolsa de Milão chegou a cair
mais de 3,5% e a de Madri a acompanhou. O pior da turbulência
financeira ficou por conta do juro cobrado pelo mercado para comprar
os títulos da dívida italiana, que de uma hora para outra chegaram a
ficar 3,62% mais caros. No caso da Espanha os juros da dívida
dispararam ainda mais e bateram em 4,25%.
O furacão desta vez começou na Itália. E envolveu o anúncio de que o
ex-primeiro ministro Silvio Berlusconi voltaria a concorrer nas
próximas eleições italianas. Berlusconi, um dos homens mais ricos da
Itália, dono de redes de TV e até de time de futebol como o Milan,
enfrenta muitos processos judiciais, inclusive por evasão de divisas.
O anuncio da volta de Berlusconi assustou os mercados europeus porque
ela pode significar o fim da política econômica de austeridade do
atual primeiro ministro italiano Mario Monti. A política de Monti, de
cortar gastos e equilibrar as finanças do Estado produziu alguma
estabilidade na economia do país. Monti conseguiu o apoio da Câmara de
Deputados para aprovar um Orçamento bem mais enxuto para 2013. E
organizar as eleições marcadas para fevereiro do próximo ano. O
partido de Berlusconi retirou o apoio a Monti e derrubou o governo na
sexta-feira. Na segunda-feira os mercados reagiram derrubando a bolsa.
Vários analistas econômicos já notaram que o discurso de Berlusconi
para as eleições de fevereiro será antiausteridade, antireformas
econômicas, com mais gastos e portanto, com mais riscos para o
mercado. Esse receio atingiu aos 17 países da área do euro. Em
especial, a Espanha que tem uma situação econômica ainda mais
complicada que a da Itália.
Não foi por outro motivo que ontem aumentaram os rumores de que os
espanhóis seguirão o caminho da Grécia, Portugal e Irlanda e pedirão
ajuda ao Banco Central Europeu, na forma de um resgate de sua dívida.
Isto quer dizer: o banco central ajuda a baixar os juros da dívida
espanhola, mas também, passa a dirigir mais de perto a economia do
país. Ou seja, a autonomia da Espanha para gerir sua economia ficou
bem menor, como já aconteceu com os outros países que pediram resgate.
Eles são ajudados, mas perdem parte considerável do comando de sua
economia.
Nessa hora os políticos pensam duas vezes: se a economia passa a ser
gerida pelo Banco Central Europeu o poder deles diminui. A política do
banco central é de diminuir gastos e cortar despesas do governo.
Berlusconi não aceita essa política e tentará manter os gastos como
estão. Portanto, desta vez, a crise do euro voltou por razões
políticas. Mas, irá prejudicar a economia dos países do euro. E muito.