A França do presidente socialista François Hollande decidiu estimular o crescimento. Criticada pela União Europeia e pela Alemanha por sua aversão histórica a abrir a economia e pela resistência à globalização, a França se lançou em 2014 ao desafio das reformas econômicas.
Recordista de impopularidade desde 1958, o presidente François Hollande afastou do governo a ala à esquerda do Partido Socialista (PS), nomeou um primeiro-ministro social-liberal e desde então adotou um discurso reformista para relançar a produção, estagnada, e combater o desemprego.
Se é retórica política ou não, só o tempo dirá. Mas o fato é que houve uma virada de discurso em 14 de janeiro de 2014, quando o presidente inverteu a lógica da política econômica, baseada no aumento de impostos – uma taxa de 75% dos rendimentos válida por dois anos chegou a ser criada sobre grandes fortunas – e prometeu reformas que resultariam em cortes de € 50 bilhões nos gastos públicos e de € 30 bilhões em impostos empresariais até 2017.
O episódio seguinte ocorreu em 31 de março, quando Hollande demitiu o premiê Jean-Marc Ayrault e nomeou Manuel Valls, um dos expoentes da ala centrista do PS. Ao assumir, o novo chefe de governo implementou seu estilo, trazendo à tona um discurso pró-globalização e uma visão mais liberal da economia – um choque para um país de cultura de bem-estar social e arraigado ao protecionismo.
O passo seguinte, traumático, veio em agosto: a demissão do ministro da Economia, o “colbertista” Arnaud Montebourg, defensor da “desglobalização”. Sua saída provocou um racha no Partido Socialista (PS), a demissão de dois outros ministros e o expurgo dos mais radicais.
Para o lugar de Montebourg, Hollande e Valls chamaram um jovem social-liberal, Emmanuel Macron, de 36 anos, repartindo funções com o ministro das Finanças, Michel Sapin.
Com a tríade Valls-Macron- Sapin, o estilo do governo Hollande mudou, deixando para trás o discurso hostil aos mercados financeiros e adotando um tom conciliador com o mundo dos negócios. Desde então, todas as semanas uma nova reforma é anunciada no país.
A primeira foi o chamado Pacto de Responsabilidade, com medidas para reduzir o custo do trabalho, avaliadas em € 10 bilhões, e para aumento da competitividade, que exigirão mais € 20 bilhões.
Além dessas medidas, estão em curso programas de modernização fiscal e de simplificação de normas e de procedimentos.
Para reforçar o caixa entre € 5 bilhões e € 10 bilhões, o governo francês também vai privatizar parte do capital de algumas das 74 empresas com participação estatal de € 110 bilhões. De acordo com Macron, trata-se de “liberar a economia e retirar os bloqueios que travam o crescimento”.