The New York Times; Na época em que Donald Trump anunciou sua campanha presidencial, houve muita conversa sobre como os republicanos anti-Trump estavam prestes a repetir os fracassos de 2016, recusando-se a enfrentar Trump de frente e deixando-o avançar ileso até a indicação.
Essa abordagem parecia errada de dois jeitos. Primeiro, ao contrário de 2016, os republicanos anti-Trump tinham uma alternativa notável e popular: Ron DeSantis, governador da Flórida, cujos números nas pesquisas eram competitivos com os de Trump e estavam muito à frente de qualquer outro rival. Segundo, ao contrário de 2016, a maioria dos eleitores republicanos das primárias agora já havia apoiado Trump em duas eleições nacionais, fazendo deles alvos ruins para ataques radicais contra sua inaptidão para a presidência.
Combinando essas duas realidades, o caminho anti-Trump parecia bem claro: unir-se em torno de DeSantis desde cedo, apostar no cansaço de Trump e esperar pelo desvanecimento lento, não pelo nocaute dramático.
Mas admito que ver DeSantis cair nas pesquisas primárias – e observar a reação dos republicanos e da mídia a essa queda – trouxe flashbacks da corrida presidencial de 2016. Sete anos depois, está claro que ainda estão em jogo muitas das dinâmicas que fizeram de Trump o indicado.
Vamos contar algumas delas. Primeiro, temos os limites do alinhamento ideológico em uma campanha contra Trump. Este é o principal argumento de meu colega Nate Cohn em sua avaliação das batalhas recentes de DeSantis – e é um bom argumento: DeSantis passou o ano acumulando vitórias legislativas que combinam com a ortodoxia oficial da direita, mas já vimos na campanha de Ted Cruz em 2016 os limites da rigidez ideológica. Muitos eleitores republicanos votam nas primárias com uma matriz de posições conservadoras na cabeça, mas não o suficiente para superar o apelo da persona Trump, e uma campanha contra ele não vai prosperar se a principal estratégia de venda for apenas o Verdadeiro Conservadorismo 2.0.
Em segundo lugar, temos a incompatibilidade entre o conservadorismo cultural e a classe doadora anti-Trump. Parte da vantagem de DeSantis agora, em comparação com a situação de Cruz em 2016, é que ele parece mais simpático aos doadores do partido com mais dinheiro.
Mas muitos desses doadores realmente não gostam da guerra cultural: concordam com um discurso anti-woke genérico, mas odeiam as batalhas da Disney e geralmente são pró-escolha. Então, movimentos socialmente conservadores que DeSantis não consegue recusar, como assinar a proibição do aborto até seis semanas na Flórida, rendem histórias instantâneas sobre como seus potenciais doadores estão pensando em fechar a carteira, com um sentimento palpável de: “Por que não Nikki Haley ou mesmo Glenn Youngkin?”
Isso leva à terceira dinâmica que pode se repetir: o problema de coordenação Partido Republicano, também conhecido como engavetamento na Carolina do Sul.
O caso democrata
Você se lembra de como todos os rivais de Joe Biden saíram discretamente da corrida presidencial quando chegou a hora de conter Bernie Sanders? Lembra como nada remotamente parecido aconteceu entre os republicanos em 2016? Bem, se você tem uma base de doadores anti-Trump insatisfeita com DeSantis e disposta a sustentar rivais por um bom tempo e se dois desses rivais – Haley e o senador Tim Scott – vêm do estado da Carolina do Sul, é fácil ver como eles podem se convencer a esperar mais um tempo, mas acabarem entregando a Trump exatamente o tipo de vitória apertada que lhe rendeu um impulso irrefreável em 2016.
Um certo estado de espírito já declarou que Trump está com um impulso imparável. Isso reflete outra tendência que ajudou a elegê-lo da primeira vez: o estranho fatalismo dos republicanos profissionais. Em 2016, muitos deles viajaram de “ele não consegue vencer” para “não conseguimos contê-lo” com apenas uma escala no meio. Um mês difícil para DeSantis já trouxe à tona o mesmo espírito – um artigo de Jonathan Martin no Politico citou um estrategista dizendo, resignado: “Vamos ter de ir para o porão, escapar do tornado e voltar quando tudo tiver acabado para reconstruir a cidade”.
Influenciando essa perspectiva, mais uma vez como em 2016, está a suposição de que Trump não vai conseguir vencer a eleição geral, então, se o Partido Republicano apenas o deixa perder, finalmente vai se livrar dele. É claro que essa suposição esteve completamente errada no passado, pode estar errada de novo – e, mesmo que não esteja, quem garante que ele não vai voltar em 2028?
Por fim, a última dinâmica que está se repetindo: a mídia ainda quer Trump. Isso não exime a culpa dos eleitores das primárias republicanas. Se o ex-presidente for indicado mais uma vez, apesar de todos os seus pecados, a culpa é deles e somente deles.
Mas, na cobertura ansiosa da queda de DeSantis, ainda sinto um certo tom que sugere que, em algum nível semiconsciente, a grande imprensa quer o retorno de Trump. Querem aproveitar a audiência do Show de Trump, querem que o Partido Republicano seja definido pelo trumpismo enquanto eles próprios se definem como defensores da democracia.
E assim os rivais de Trump terão de lutar, não apenas contra a potência do homem, mas também contra um impulso já aparente: declarar a vitória de Trump antes mesmo que um único voto seja colocado na urna.